Travelling Wave: "Sempre em busca do risco", diz Altafini ao PiaparaCultural


Thiago Altafini, primeiro à esquerda, conversou com o PiaparaCultural (Foto: Divulgação)

Por Henrique Inglez de Souza

Novo EP, Simoom (2016), turnê pela Argentina e no Chile, atração de encerramento do I Encontro de Música Independente de Piracicaba, no Sesc, nome confirmado no Locomotiva Festival. O momento é realmente de empolgar para o Travelling Wave. Carol Alleoni (vocal, sintetizadores), Thiago Altafini (guitarra, backing vocal), Nathalia Oliveira (bateria) e Vitor Galvão (baixo, sintetizadores) vêm ampliando seu espaço por uma trilha complicada, mas altamente compensadora e necessária: a do autoral. E o fazem com propriedade! São uma das forças empolgantes do rock de Piracicaba. Na entrevista a seguir, Thiago Altafini nos traça um balanço desse instante.

O quanto o título, Simoom, reflete as quatro faixas do EP?
"Simoom" também significa "vento venenoso". É um tipo de fenômeno natural que acontece em desertos do Oriente Médio. Um vento tão quente e seco que é capaz de sufocar até à morte. Achamos que era uma metáfora interessante quando justaposta ao tipo de som do TW e o conteúdo das letras, cheios de densidade, sujeira, ruído e desespero existencial. Também é possível encontrar ecos orientais na sonoridade de algumas das músicas, fruto de nossas pesquisas pessoais.

O som sugere um direcionamento um tanto diferente em relação aos trabalhos anteriores de vocês. O que mais os inspirou durante a composição do material?
Esse trabalho é bem diferente do nosso primeiro álbum, T-Wave (2013), mas segue na mesma linha do EP A Cloud of Madness (2014) e das faixas que gravamos pelo Rubber Tracks. Um som mais orgânico e encorpado, ainda que com forte presença de sintetizadores. É como que uma evolução natural da estética desses EPs anteriores, mas ao mesmo tempo evitando nos repetirmos. Sempre em busca de algo novo, do risco.

Simoom tem uma produção menos urgente que os lançamentos mais antigos. Produzimos com mais calma, passamos mais tempo na mixagem. O resultado mantém a paisagem por onde sempre passeamos, é denso, ruidoso e atormentado, de melodias soturnas. Carrega, ainda, certa atmosfera mântrica.

No início, eu achava que o Travelling Wave garimpava no terreno do grunge dos anos 1990, mas esse novo EP me louvou ao gótico de meados dos anos 1980. O quanto a resposta de público orienta vocês?
Cara, tudo isso é influência desde sempre: as guitar bands dos anos 1990, o dark e o post-punk dos anos 1980, a psicodelia dos anos 1960 e 1970, o shoegaze, o blues metal, o drone. Nos inspiramos em tudo, mas tentamos não soar tão parecidos com nada. É um processo bem natural, subjetivo, um tanto racional. Confesso que a resposta do público orienta pouco. Acho que o público desse tipo de música gosta de ser surpreendido, como eu gosto.

(Reprodução)
Os temas das letras trafegam por universos mais oníricos, "viajados", do que os que costumavam trabalhar. Esse tipo de abordagem casa mais com o som que estão fazendo?
As letras quase sempre tratam de questões existenciais ou psicológicas, considerando a natureza e sua força mística alcançada por estados alterados de consciência. Realmente, se comparadas às letras do T-Wave, que são imagens bem objetivas, as de Simoom têm uma poesia mais transcendental. São influenciadas pelo que lemos, assistimos, ouvimos ou vivemos.

Como surgiu a turnê pela Argentina e Chile?
A turnê foi organizada no mais puro espírito "low profile" e "do it yourself". Fizemos a Argentina de 31 de agosto a 6 de setembro  e o Chile de 7 a 14 de setembro. A parte argentina foi organizada com o apoio de nossos amigos e produtores daquele país: Julian Ciceri (Arto) e Florência Tropea (Festi Terror). Tocamos em dois festivais com bandas locais, o Festi Terror (Niceto Club) e Lunes o Sabbath (Club V), ambos em Buenos Aires. 

A parte do Chile aconteceu por meio de um intercâmbio com os grupos chilenos A Full Cosmic Sound e The Mugris. Eles fizeram uma série de shows no Brasil em agosto. Nós os ajudamos a organizar alguns deles e tocamos juntos também. Tivemos todo o seu apoio para a etapa chilena da turnê, principalmente do Alvaro Daguer, da Etcs Records, e do Maurício Chispa, do Mugris.

No Chile, nos apresentamos em Santiago e em Concepción. Na capital, as performances foram em locais tradicionais da cena musical alternativa, como os bares Loreto, Uno e Rene, sempre acompanhados de nomes locais. Em Concepcion, cidade no centro-sul do país, tocamos na Casa de Salud, um centro cultural e casa noturna bem conhecida por lá.

O público daqueles países curte mais a música do Travelling Wave do que o de Piracicaba?
Sim, a maioria dos shows foi nas capitais, Buenos Aires e Santiago. É normal que o público tenha mais referências e contato com esse tipo de som. Em São Paulo, as pessoas gostam mais do nosso som do que em Piracicaba.

Já dá para sentir o quanto ter tocado fora do país acrescentou à banda, criativamente falando?
Cara, além de fazer vários shows na sequência, o que nos dá uma potência na performance, vimos muitas apresentações de bandas interessantíssimas. E convivemos todo o tempo com músicos e artistas. Foi uma avalanche de novas referências. Isso influencia criativamente.

Vocês registraram algum show para um eventual EP ao vivo?
Sim, temos vários registros, mas não tínhamos pensado num EP. Boa ideia!

Que tal fechar o Encontro de Música Independente de Piracicaba, no Sesc – uma posição bastante prestigiosa?
Ficamos bem felizes. Acho que fechamos por que o festival coincidiu com esse momento bom da banda: lançamento do EP e a turnê fora do país. O pessoal teve sensibilidade para isso. Mais legal é esse tipo de coisa acontecendo na cidade e no Sesc. É muito positivo!

Independente ou não, o rock autoral de Piracicaba está conseguindo se expandir ou ainda respira com ajuda de aparelhos?
A cena musical alternativa sobrevive sempre como um movimento de resistência. Têm acontecido muitos shows incríveis em Piracicaba, de novos artistas brasileiros e estrangeiros da mais alta relevância. Porém, alguns deles ainda estão vazios. Produzir uma apresentação de música alternativa, aqui, costuma ser um passo no escuro. E falta mais iniciativa do poder público nesse sentido, também. Locais consagrados, como o Sesc, ou mais recentes, como o Casarão Music Studio, produtores como o Orleone Recs, ou ainda iniciativas como o Locomotiva Festival, mantêm a cidade musicalmente conectada com o mundo.

:::: Clique aqui e ouça o EP Simoom.

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