Ramon Saci fala do recém-lançado primeiro EP digital do Cantoá

(Foto: Matheus Marconi/Divulgação)

Por Naiara Lima

São três anos de existência da piracicabana Cantoá. Segundo seu vocalista, Ramon Saci, a banda nasceu com o propósito de sintetizar a alma brasileira, de destilar a cultura e potencializar a sua essência. Para dar o pontapé inicial nesses sonhos ousados, eles lançaram recentemente, via SoundCloud, seu primeiro EP, A Bênção. E é assim, pedindo essa permissão sagrada, que abrem oficialmente a carreira de trabalhos autorais. 

Além de Ramon Saci (violão, viola, voz), o time tem Renato Chiarinelli (baixo), Lucas Fernandes (violoncelo), Edu Vianna (percussão, flauta), Beto Oliveira (percussão) e Roger Fogaça (bateria). Samba, maracatu, ijexá, baião, xote, frevo, bem como outras expressões da cultura popular brasileira são fonte de inspiração para o grupo. A ideia é transmitir uma mensagem positiva para o público, incluindo o intérprete de Libras nos shows.

Com três composições autorais (A Benção, Grito de Festa e Inês-Góta Fonte), o EP é uma preparação para um projeto maior, o de um CD. Saci falou ao PiaparaCultural sobre A Bênção e quais são as bênçãos que a Cantoá deseja receber e oferecer ao público.

O Cantoá lançou A Bênção pelo SoundCloud. Qual seria a bênção que vocês mais desejam neste momento?
O objetivo do artista com sua arte é sempre tocar as pessoas. O Cantoá tem uma missão muito importante nesse sentido, já que se propõe a misturar ritmos musicais, juntar passado e presente e promover um futuro de mais unidade. Acho que essa é a palavra-chave e é o que as músicas transmitem de maneira geral. Seria uma bênção se nossa música pudesse tocar as pessoas para esse sentimento de comunhão universal.

O som de vocês nos remete a Chico Science, Nação Zumbi e outras bandas do manguebeat. Quais são as suas referências?
Perfeito! Assim como Chico Science fundiu a cultura local com o rock e a música eletrônica, que são elementos modernos, o Cantoá busca uma integração das culturas regionais com os palcos da modernidade. Além de Nação Zumbi, Zé Ramalho, Gonzaguinha, Lenine, Antônio Nóbrega, Mestre Ambrósio, Gilberto Gil e Naná Vasconcelos são outras referências.

O que acham que tem de Piracicaba em suas composições?
Paira nas composições a essência do homem caipira, do contato com a terra, da humildade, do respeito, do encantamento com o mundo. Algumas músicas são executadas na viola para trazer justamente a identidade sonora da nossa região. Porém, ainda estamos buscando essa mistura de moda de viola com a música contemporânea. Os Pamonheiros, banda daqui da cidade da qual, inclusive, fez parte o nosso baixista, Renato Chiarinelli, já havia feito uma fusão de rock com moda de viola. Representou um passo importante. Enfim, queremos dar um próximo passo.

Na faixa A Bênção, vocês falam de pontes, amor, fé no futuro, alegria de poder cantar. O que poderia nos comentar sobre as canções do EP?
(Imagem: Reprodução)
Todas as músicas foram feitas por mim e os arranjos saíram coletivamente. É uma tentativa de materializar nossos sentimentos mais sublimes, questões da existência, da moral, das relações, questões sociais. 

A Bênção fala dessa tradição que havia de se pedir bênção aos avôs, como sinal de subserviência e respeito. Essa é a abertura do show: pedimos a bênção e levamos o axé (que significa energia, a força sagrada de cada orixá, que são os arquétipos da religião afro-brasileira). A letra discorre sobre o amor. O ritmo predominante é o maracatu, dando peso e ênfase à mensagem de abertura. 

O Grito de Festa fala de festa mesmo, mas de uma maneira mais profunda. Tudo na modernidade tende à banalização, por conta do processo de capitalização das coisas, que perderam o valor em si mesmas. Porém, a festa é o prazer, é a libido que significa "anseio ou desejo", é a manifestação do ser feliz, do gostar. O ritmo nesta é o ijexá, de origem afro-brasileira dos tambores do candomblé. 

Inês-Góta Fonte é a mais densa da banda, um afro-rock. Juntamos o peso do rock com o suingue africano para falar sobre a morte. A letra conta a história de uma mãe que vê o filho morrer. Discorre sobre a fonte inesgotável. Fiz essa em São Paulo, depois de passar próximo da cracolândia e ver muitas pessoas caídas no meio da rua. É uma visão apocalíptica. A música sugere a natureza como resposta.

A arte do EP me parece expressar bastante o conteúdo das músicas. De quem é?
Sim, o logo traz um peixe, que remete à origem da vida, uma viola e um tambor, que remetem à origem da música brasileira, e um índio, que faz referência às origens da formação do povo brasileiro. O artista mora atualmente em São Paulo, chama-se Faggi.

Vocês usaram o SoundCloud como plataforma de divulgação do EP. Como veem essas novas tecnologias de divulgação de trabalho?
Estamos no meio da mudança de diversos paradigmas. Acreditamos que a tecnologia pode ser bastante positiva, e acho que a humanidade também está descobrindo como fazer bom uso dessas novas ferramentas em sintonia com as questões ecológicas. É um momento muito bonito da história, e também muito desafiador. O Cantoá está aprendendo e se apropriando nessas novas formas de comunicação. Lançamos o EP e em menos de 24 horas tivemos bastante retorno. Várias pessoas já entraram em contato para parabenizar e elogiar o trabalho. O alcance é incrível: em cinco dias, tivemos 400 audições no SoundCloud!

Quais são os projetos para este final de ano e para 2017?
Temos três shows marcados: Estação Cultural (13/10), Festival Pamonha Groove (14/10) e Sesc Bauru (30/10, em Bauru/SP). Este ano, incluímos na nossa equipe o Glaucio Camargo, intérprete de Libras e faz a tradução do show simultaneamente no palco, atendendo à comunidade dos surdos. 

Depois do EP, a nossa missão é lançar o primeiro álbum completo da banda, reunindo as três músicas do EP e pelo menos mais cinco composições, que já estamos cantando nas apresentações. Outro objetivo para o ano que vem é a gravação de um videoclipe. Com certeza,  o ano de 2017 será histórico para a trajetória da banda!

Ouça o EP no player logo abaixo.
   

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