'A Alma de Santa Olímpia', de Gabriela Andrade Ferraz, é lançado neste sábado


(Foto: Divulgação)

Por Naiara Lima

O sentimento de comunidade e união, bem como a rica cultura do Santa Olímpia, conquistou o coração da jovem jornalista Gabriela Andrade Ferraz. Não por acaso, o bairro que abriga uma comunidade tirolesa em Piracicaba se tornou tema de seu último trabalho na Unimep (Universidade Metodista de Piracicaba), o livro-reportagem A Alma de Santa Olímpia. A publicação será lançada neste sábado (1º), às 16h, no Café Tirol.

A obra compõe-se de 16 capítulos, em que a autora relata sua experiência com a realidade cultural da comunidade. Ela passou dias pesquisando, provando a culinária, conversando com idosos, jovens e responsáveis por iniciativas de preservação à história e tradição. “Em alguns dos capítulos, o foco está em um único entrevistado, em outros, foram mais fontes consultadas”, relatou ao PiaparaCultural.

Gabriela também contou que teve dificuldade para selecionar os relatos e as personas, “pois há muitas figuras interessantes no bairro, com histórias igualmente intrigantes”. A solução foi pinçar perspectivas diferentes e também “pessoas representativas na luta pela manutenção da cultura, com influência na construção da identidade tirolesa e na perpetuação da tradição e do modo de vida dos antepassados”. Confira a entrevista completa.

Como surgiu o interesse em fazer um livro sobre Santa Olímpia?
Eu não conhecia Santa Olímpia, apenas havia ouvido falar. Certo dia, numa data festiva, conheci o local e fiquei completamente encantada. Voltei para tomar um café no Café Tirol e tive contato com o Ivan Correr, proprietário. A recepção foi bem especial: um misto de cultura, boa conversa e tradição. As primeiras impressões foram muito marcantes. O bairro parece um cantinho da Europa. Tem uma atmosfera diferenciada e uma identidade peculiar fortalecida e inerente ao próprio modo de vida dos moradores.

Pensando no potencial cultural, histórico e humano de lá, decidi escrever sobre o tema em meu livro-reportagem (parte integrante do trabalho de conclusão de curso de Jornalismo). Queria falar sobre esse cantinho reservado na zona rural de Piracicaba. Ali funciona como uma enciclopédia cultural viva, contada diariamente pelos moradores, que mantêm o legado deixado pelos corajosos antepassados.

Quem foi o professor orientador e como foi a construção do projeto até encontrar uma linha de trabalho?
A Ana Camilla Negri, que é simplesmente fantástica. Soube orientar sem frear a liberdade da construção necessária à minha evolução como profissional. Suas ideias, indicações bibliográficas e acompanhamento da monografia foram essenciais para o sucesso do projeto. O tempo para a elaboração do livro foi muito curto. Escrevi tudo, e editei, em praticamente três meses, pois o primeiro foi mais destinado à construção do projeto e da pesquisa. Como em minha monografia fiz um estudo de uma obra da jornalista Eliane Brum, com foco na humanização do relato e no jornalismo literário, quis transpor os conceitos estudados numa obra real.

O foco não era histórico, mas sim, humano. O livro-reportagem resgata relatos de moradores que, em sua subjetividade, representam a essência do bairro. Eu queria expor os “anônimos” que constroem a temática abordada, protagonizando os fatos reportados. Decidimos separar os capítulos como se fossem crônicas jornalísticas, cada qual com seu foco e personagens. Pensamos em adicionar aspectos sinestésicos e descritivos para nortear o leitor e aproximá-lo da realidade retratada. As fotografias também fizeram parte do projeto inicial.

Quais são as histórias mais peculiares, inusitadas ou surpreendentes?
O que mais me intrigou no bairro foi o senso de "comunidade". São pessoas que caminham rumo à mesma direção, que prezam pelo bem-estar, pelo bom convívio e pela cultura. De uma forma geral, todos os entrevistados demonstram, cada um à sua maneira, essa preocupação com o outro, o respeito pelo passado e o anseio de cuidar do futuro para as crianças.

Um dos pontos de vista mais interessantes foi o respeito ao falecimento de um membro da comunidade. Não cito isso no livro, mas ocorreu uma morte no lá enquanto eu captava as entrevistas. O bairro "paralisou" por um período e passou a se dedicar à família, que naquele momento precisava de apoio. O senso de comunidade é algo raro e precioso, que merecia ser registrado. Essa percepção foi uma das principais motivações para escrever o livro.

O que ficou dessa experiência para você?
Posso dizer que foi uma experiência muito rica. Tanto em termos técnicos jornalísticos como na elaboração de projeto, planejamento, execução, captação, edição e gestão. E também na experiência pessoal, com o contato com uma cultura diferente que apresenta pessoas especiais. Meu coração agora bate um pouco mais tirolês, assim como o colar de Edelweiss que carrego no pescoço.

Cada entrevista significou muito, e hoje posso afirmar que as pessoas são bem importantes. Não acredito num jornalismo que elimina a complexidade psicológica de quem está por trás dos fatos retratados e transforma pessoas em estatísticas, em meras aspas sem contexto. As pessoas escreveram o meu livro. Foram elas que permitiram que eu pudesse sentir o bairro, sentir a comunidade, sentir a "alma" de Santa Olímpia.

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