Fresno em Piracicaba: "Tem coisa nova vindo por aí", avisa Lucas Silveira
Por Henrique Inglez de Souza
Aproveitando a vinda do Fresno a
Piracicaba, o que acontece nesta sexta-feira (29), conversamos com Lucas
Silveira. O vocalista e guitarrista refletiu os dez anos do álbum Ciano,
mote principal da atual turnê, a carreira, o rótulo de emo, entre outras
coisas. Ele e seus chapas – Gustavo "Vavo" Mantovani (guitarra),
Thiago Guerra (bateria) e Tom Vicentini (baixo) – sobem ao palco da Cast Club,
a ingressos que variam de R$ 50 a R$ 300 (vendas neste link). A noitada
começa às 22h, com as bandas HateBox e Never Too Late.
Olhando
e executando Ciano dez anos depois,
qual é o tipo de álbum que notam (agora, já maduros)?
Acredito que a coisa mais difícil no
trabalho de um artista é encontrar sua essência. Inclusive, essa essência muda
o tempo todo, e a busca por ela deve ser perene. Com Ciano, pela primeira vez,
encontramos um caminho comum a todos nós, e eu, pessoalmente, me vi finalmente como
um compositor que tinha algo a dizer a seu publico, além de uma simples
expressão do que sente. Ciano marca o momento em que
percebemos nosso real poder, não apenas como banda, mas o poder que uma música
pode ter na vida da pessoa. E isso, com certeza, nos mudou.
Com
os anos de carreira e a experiência que vocês têm, como imagina que sairia Ciano se fosse feito em 2016?
A cada álbum, usamos muito o Ciano
como referencia, mas não no sentido de tentar emular uma sonoridade antiga, e
sim no fato de que é um disco que quis existir. Ele não surgiu da pressão de um
empresário, gravadora ou da busca de um som radiofônico. Muito pelo contrario,
veio da vontade sem filtros de expressar o que se passava nos corredores mais
escuros da nossa alma. E é claro que hoje isso ainda ressoa, após todos esses
anos. Fomos capazes de perceber que Ciano é tão especial aos fãs por
conta justamente da verdade que existe em seus versos.
O
rótulo de “banda emo”, bastante presente no início da carreira de vocês, é
coisa do passado ou ainda os persegue? Incomoda?
A gente não se sente perseguido, pois,
com o passar do tempo, nosso som evolui e essas coisas acabam ficando para trás.
Nenhuma das escolhas musicais que nos fizeram ser rotulados como emo nos envergonha.
Inclusive, o rótulo “emo” costuma ser bastante usado por nós, que não fazemos
ideia do que significa, mas demoramos tempo para levar isso em conta.
Houve uma época em que tudo que tinha
cara de rock e falasse em algum grau sobre sentimentos era taxado de emo. Isso vai
muito contra o próprio lema do rock, que sempre permeou a liberdade de criação,
o fim dos preconceitos e justamente a ausência total de regras. Sob essa ótica,
fazer um “som emo” é mais rock do que seguir uma cartilha velha e amarelada de “regras
de conduta” de como deve ser uma canção para ser rotulada de rock.
Qual
é a cara do Fresno depois de 16 anos de banda?
Eu venho buscando cada vez mais a pureza
da composição, um conceito inatingível de se transformar apenas em um canal por
onde a música flui do etéreo e vira palatável, material. Para atingir isso, a
gente vem ao longo dos anos rompendo com as barreiras que as pessoas ou nós
mesmos acabamos impondo ao nosso som. A ideia é sempre surpreender, testando
novos formatos, desapegando de expectativas e, como disse anteriormente,
fazendo a musica acontecer sozinha, sem interferências externas – nossas ou de
outras pessoas. É ter essa sensibilidade de perceber o que a canção pede, e
isso é um exercício continuo de calibrar as nossas antenas criativas. Tem coisa
nova vindo por aí!
A
discografia da banda mostra que vocês lançaram relativamente bastante EPs. Nos
dias de hoje, esse formato acaba sendo a melhor alternativa?
O EP é uma maneira de se mostrar um novo
trabalho, um novo conceito, sem se comprometer a produzir uma dúzia de músicas.
Isso se mostra bastante útil no atual momento, e aí eu nem estou me referindo à
crise, e sim à nova maneira com a qual as pessoas se relacionam com música. Num
álbum completo, a chance de se perder ótimas faixas por causa da efemeridade
dos novos tempos é altíssima, bem como as chances de se “errar” no meio do
caminho – pelo simples capricho de lançar um disco com o mais material.
Logo, minha conclusão é que, sim, o EP é
um modo mais simples e mais barato de se lançar um trabalho inédito. Isso mostra
ser bastante útil em tempos de crise, mas também existe uma ambição artística
que se encaixa melhor aos EPs, que é justamente a possibilidade de fazer uma
obra mais coesa e com um conceito mais fechado. Fazer assim pelo fato de
estarmos tratando de uma menor quantidade de canções.
Por
falar nisso, então, há material de estúdio a caminho?
Estamos trabalhando
há mais de um ano, num ritmo calmo e sem pressões, em um repertorio de músicas
novas. No momento, não prometemos prazos ou datas, nem para nós mesmos, pois
fazer isso iria de encontro ao nosso compromisso de obter a música da maneira
mais natural possível. No entanto, já nos encontramos bem avançados no
processo, e loucos para que o mundo ouça esses novos sons.
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