Bebé Salvego: "Um dia, falei ao meu pai que queria cantar jazz"
Por Henrique Inglez de Souza
Bebé Salvego é uma cantora mirim à parte. Não bastasse o
talento, demonstra uma cultura que vai além da mera reprodução do que lhe
disseram. Ela entende do que fala, pois fala baseada naquilo que ouviu, gostou
e assimilou. O sucesso de sua aparição no Programa do Jô (2015), de Jô Soares,
e no programa The Voice Brasil Kids (2016),
ambos da TV Globo, apenas possibilitaram que o Brasil conhecesse o que nós,
piracicabanos, já sabíamos.
Este final de semana está
movimentado para a filha do ilustre e respeitado violonista Otiniel Aleixo,
conhecido como Legal. Além de se apresentar na programação infantil de férias do
Sesc nesta sexta, Bebé se apresenta no 3º Monte Alegre Food Music Festival,
este domingo (10). Veja o papo que tivemos com essa pérola de Piracicaba.
Em seu repertório, você transita por diferentes épocas
do jazz – dos clássicos à Amy Winehouse. Foi por causa dela que começou a
gostar do estilo?
Na verdade, foi por causa do meu pai, que tocava no
Hot Club de Piracicaba. Eu ouvia as cantoras de Piracicaba no jazz cigano – ele
também ouvia bastante em casa. Eu já cantava música brasileira para crianças e,
um dia, falei ao meu pai que queria cantar jazz, que gostava muito.
De qual tipo de jazz mais gosta, dos recentes ou dos
antigos e clássicos?
Gosto mais de jazz cigano e dos clássicos. As minhas
influências são Sara Lazarus, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Billie Holiday,
Frank Sinatra.
O que tem no jazz que não tem em outro estilo, que te
deixa mais confortável cantando?
Não sei. Eu me sinto mais confortável. É porque me lembro
que as cantoras sofriam muito – às vezes, por serem negras, por não poderem
entrar pela porta da frente. Sofreram muito. E eu aqui, que tenho apenas 12
anos de idade, consegui entrar pela porta da frente e estou conseguindo levar o
meu estilo. É por isso que me sinto mais à vontade.
Legal saber, porque muitos começam a querer cantar ou
tocar um instrumento só para ser famoso. Não vejo tanta uma motivação como a
sua.
Sim, obrigada!
Embora tenha preferido sair do circulo infantil, nesta
sexta-feira você canta num projeto dedicado às férias das crianças.
Isso. Vou cantar jazz e música infantil, também. Vou
misturar um pouco e tentar influenciar as pessoas, porque está comprovado que o
jazz deixa as crianças mais felizes, deixa quem ouve esse estilo.
E que tipo de jazz acha melhor para chamar a atenção
das crianças?
Acho que Fly Me to the Moon, porque é um jazz
clássico, conhecido, e acredito que as crianças vão se interessar mais. É bem
bonitinha a música: fala que ele está na Lua... Essa letra é bem interessante e
acredito que irá tocar as crianças.
O quanto mudou a sua carreira depois da grande
exposição que teve, por conta da aparição na televisão?
Está muito legal, porque o Voice Brasil Kids, a
televisão, na verdade, foi bom para ver que tem criança que também ouve jazz e
para não deixar isso morrer. As pessoas voltaram a ouvir mais jazz depois de um
tempo – ouviam antigamente e passaram a ouvir mais de novo. Tive um assédio
grande, mas gosto muito, muito, disso.
E em relação a cantar em outras cidades, como ficou?
Me sinto normal quando canto em outras cidades. Também
me sinto feliz por outras cidades se interessam. Piracicaba gosta, e daí vejo
que outras cidades me chamam, é muito legal!
E em São Paulo, recebe convite?
Vou me apresentar no dia 12 de outubro, no Centro
Cultural São Paulo. Vai ser com o Felipe Machado e o Filó Machado.
Que disco você tem ouvido ultimamente?
Gosto bastante do da Esperanza Spalding, do novo dela
[Emily's D+Evolution]. Ela cantava jazz, mas agora está com um trabalho
muito diferente, que é de pop. Sabe daquele pop meio "torto"? É bem legal!
E o seu disco, quando vem?
Meu disco está quase ficando pronto. Estamos fazendo
aos poucos, sem muita pressa. Eu também componho, e terá um jazz que fiz que o
meu pai está arranjando.
Você compõem em português?
Não, em inglês.
Não pensa em fazer jazz em português ou alguma coisa
com música brasileira?
Sim, sempre tento levar para a bossa, para o choro
quando improviso. No jazz, na hora dos solos, canto uma música brasileira, tento
combinar. Por exemplo, Amy Winehouse com Djavan: Valery com Fato
Consumado. Fica bem legal!
E quando deve sair o seu disco?
A previsão é mais para o final do ano. Estamos fazendo
bem com calma, para ficar perfeito.
Já há quantas músicas prontas?
Acho que umas 13 músicas. É porque ainda tem a minha
música para a qual estamos fazendo o arranjo.
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