'Luz Negra': peça que trata do movimento negro em duas sessões hoje no Sesc


Bob Sousa/Divulgação

Por Naiara Lima

Uma rádio dos anos 1930 é o cenário, o samba é o tema musical, os negros fazem parte do núcleo de uma elite intelectual e os brancos estão na marginalidade – os primeiros são os protagonistas desta história. Assim é Luz Negra, da paulistana Cia. Pessoal do Faroeste, que apresenta a peça no teatro do Sesc Piracicaba nesta quarta-feira (17), às 19h e às 21h30. A entrada é gratuita, com retirada de ingressos uma hora antes de cada sessão. 

O espetáculo integra um projeto de três montagens da companhia, que tem como proposta mostrar a história cultural da região da Luz e da Boca do Lixo, em São Paulo: Cine Camaleão, Homem Não Entra e Luz Negra. Segundo o dramaturgo e diretor Paulo Faria, a trilogia foi construída em um processo de descoberta. "A nossa ida para a rua do Triunfo, há 5 anos, nos colocou em contato com os temas, e eles foram se desdobrando. O mergulho foi intenso e positivo, assim, criamos as três peças", conta.

De acordo com ele, enquanto Cine Camaleão é uma tragicomédia e Homem Não Entra um faroeste, Luz Negra pretende ser um musical que evidencia a cultura brasileira. "A companhia trabalha com gêneros dramáticos. A escolha vem antes do processo", completa. "O musical foi a opção para falar do Luz Negra, por entender que o samba seria um signo fundamental para contar essa história." 

O foco da peça de logo mais no Sesc mira a formação da Boca do Lixo e a Frente Negra Brasileira. "Em 1937, na rua do Triunfo, onde a história se passa, as distribuidoras norte-americanas de cinema estavam na rua. Nesse contexto cultural e político, Luz Negra é uma rádio negra e convive com essa fase do cinema", explica.

Paulo ainda ressalta que o enredo tem como pano de fundo o dia 10 de novembro de 1937, durante a ditadura do Estado Novo, quando Getúlio Vargas fechou o congresso e cassou os partidos políticos, coibindo os movimentos sociais – entre eles o da Frente Negra. "Ainda há outra informação histórica que é o famoso crime do Castelinho, da rua Apa. Portanto, são muitas camadas para contextualizar. O público irá se surpreender com um Brasil, especialmente São Paulo, que não conhece." 

Thais Dias (Imagem: Bob Sousa)
A montagem traz no elenco a atriz piracicabana Thais Dias, que comenta ao PiaparaCultural a relação do movimento negro daquela época com os dias atuais. "Acho que vivemos um momento de ascensão dos movimentos de militância étnica, e isso vale e resvala em todas as instâncias e raças", diz. "O movimento de militância negra é gigantesco na grande São Paulo. Vemos espalhados por todos os guetos, cada canto/periferia. 'Existe' por seus movimentos de resistência coletivos e/ou individualizados. Eles 'existem/resistem' e se disseminam irradiando cultura, discurso, empoderamento, educação e historia do povo preto."

Segundo ela, a cultura estrutura-se nas periferias, onde é possível achar a chamada cultura de raiz. Thais também destaca que há ressonância do movimento negro nos coletivos artísticos. "Hoje se mantêm enraizados, alguns com projetos, prêmios e incentivos de leis e editais de cultura. Faço parte desse movimento. Milito artisticamente participando de coletivos que têm essa premissa como base em suas proposições artísticas. Sim, nós podemos concorrer! Sim, nossa causa é artística, histórica e justa!" 

Em 2014, Luz Negra recebeu indicação de melhor figurino pelo Guia da Folha e melhor musical, pelos leitores da Guia da Folha. No ano seguinte, a Cia. Pessoal do Faroeste faturou o Prêmio Shell na categoria Inovação, pelo trabalho de ocupação e intervenção social e artística que contribui para a transformação e a revitalização urbana da região da Luz.

Serviço

Espetáculo Luz Negra, da Cia. Pessoal do Faroeste
Quando: hoje
Horários: 19h e 21h30
Local: Teatro do Sesc Piracicaba
Endereço: Rua Ipiranga, 155 – Centro
Grátis – distribuição com uma hora de antecedência
Informações: (19) 3437-9292

Assista ao teaser da peça logo abaixo. 
 

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