'Trama de Rio': obras em tapeçaria homenageiam Piracicaba em exposição no Sesc
Por Naiara Lima
Depois do convite do Sesc Piracicaba, Alexandre
Heberte pesquisou a Noiva da Colina e construiu a exposição Trama de Rio. A brincadeira com o nome
revela o tema e o suporte dos trabalhos, que já estão na unidade. As obras em
tapeçaria ficam à mostra na Comedoria até 30 de outubro. A entrada é gratuita.
A mostra integra o programa Entre
Paredes, do Sesc Piracicaba. Com seu "coração de pano e alma de fibra", o
artista cearense radicado em São Paulo faz tanto bolsas e sapatos cheios de
arte quanto peças puramente artísticas. Para isso, utiliza tecituras têxteis
com material não convencional, tal quais fitas VHS e objetos encontrados no
lixo.
Heberte conversou com o PiaparaCultural
sobre a exposição e sua técnica.
Como
foi seu caminho até escolher a tecelagem como suporte artístico?
Nasci no Ceará, na terra do Padre
Cicero, Juazeiro do Norte, região conhecida como Vale do Cariri – um celeiro de
cultura popular. Cresci cercado dessa arte orgânica, nordestina: são artefatos
para enfeitar salas de casa ou criados para suprir falta de ferramentas e
utensílios, souvenir e produtos religiosos do meu Padin, romeiradas, bandas
cabaçais, grupos de reisados, manifestações de fé etc.
Quando morei em Fortaleza, ganhei novos
horizontes ao conviver com a cultura do litoral, com as rendeiras, mulheres
fazendo filé, tricô, bordado. Muitos finais de semana vivi dentro de casas de
pescadores, observando essas mulheres e seus maridos confeccionando redes de
pesca. Moro em São Paulo há quase doze anos. Trouxe toda essa vivência que se
mescla com essa grande cidade.
Foi natural minha escolha pela tecelagem.
Acho que fui escolhido, fisgado. Juan Ojea, artista, diz que tem "coração de
pano", e eu acrescento: coração de pano, alma de fibra. Foi paixão que virou
amor, hobby que se transformou em profissão. Gosto muito disso! Muitos artistas
usam fios, fibras, cabos, tecidos e linhas como suporte para seus trabalhos.
O
que te atrai nas tramas?
A vida foi me preparando para esse
encontro com os teares e tecituras, me apaixonei pela arte de fazer
tecidos. As possibilidades são
infinitas. Tecer é matemático, também é orgânico e abstrato. Coisas úteis e
inúteis podem ser criadas. Tramar é fazer manual. Coisa bem ancestral, mas
superatual. Tenho alma de artesão tecelão – tecelão de destino.
No processo, pesquiso a construção de
objetos têxteis bi e tridimensionais. Uso como matéria-prima fibras naturais ou
sintéticas. Já reaproveitei muitas fitas VHS e cassete com arame, náilon e
plástico... Em Trama de Rio, você encontrará
óculos de mergulho, isqueiro e bijuteria achados no lixo, por exemplo. A
tecitura me traz foco e disciplina, pois tecer demanda tempo e pede
concentração. Isso me atrai.
Você
comentou comigo que conversou com piracicabanos para saber mais sobre o que
poderia expor. Como funciona o seu trabalho?
Adoro dar bom-dia, puxar conversa, saber
sobre o outro. É cultural. Quando estive em Piracicaba para conhecer o Sesc,
fiquei sabendo que os piracicabanos tinham orgulho do rio, que o rio Piracicaba
já havia sido responsável pela fartura do lugar, no plantio da cana-de-açúcar e
do café, e que posteriormente a cidade se tornou uma das primeiras a se
industrializar no país.
Os piracicabanos gostam de qualidade de
vida, de consumir, de se manter atualizados. Andando pela região da rodoviária
até o rio, entrei em lojas tradicionais, parei para almoçar, depois para tomar
café na padaria. Com esse contato imediato, e sabendo que minha participação
iria coincidir com esse grande evento nacional, que é a Bienal Naïfs, nasceu o
díptico Trama de Rio, que dá título à
minha participação no projeto Entre Paredes. Eu tinha, também, a consciência de
que os tecidos artísticos seriam expostos onde as pessoas vão para comer e se
divertir... tudo me ajudou! É muito relativo o que nos impulsiona a criar.
Os
trabalhos foram feitos exclusivamente para Trama
de Rio ou você selecionou o que já tinha em relação ao tema escolhido?
Exceto por Não Jogue Lixo no Rio (banquete para as mãos), os demais trabalhos
são inéditos. Nunca haviam sido expostos – sendo que Tramas da Diversidade, Irmãos
Gêmeos e Homem e o Dragão são peças
criadas antes do convite. Porém, Trama de
Rio, sim, teci depois que voltei da cidade, especialmente para o projeto.
Trama de Rio acontece juntamente com a Bienal Naïfs. Você acha
que seu trabalho também tem um pouco de naïf?
Ele também pode ser naif. Amo a
diversidade e o caldeirão cultural em que vivemos! Gosto de pensar, também,
moderno e contemporâneo [risos].
Fiquei muito feliz com essa coincidência. A Bienal está incrível! Tenho
conterrâneo participando da mostra, o Cratense "Cocão", premiado.
Amei fazer um trabalho que dialogasse com esse momento. Assim como estou muito
feliz por participar de outra exposição, Tecelagem
Manual Brasileira, curadoria Renato Imbroisi, no Sesc Pompeia, em São Paulo
– a unidade completa 70 anos de história.
Sou fã do Sesc! O Sesc Juazeiro foi
responsável pela primeira oficina artística de que participei – teatro de
boneco. Só tenho que agradecer ao Sesc e a todos que fazem ele acontecer. Fica
o convite aos piracicabanos de visitar a unidade para conferir Bienal Naïfs do
Brasil, o projeto Entre Paredes, e, se vierem a São Paulo, venham visitar o Sesc
Pompeia.
Serviço
Entre
Paredes: exposição Trama de Rio, de
Alexandre Heberte
Quando: até 30 de outubro
Local: Sesc Piracicaba
Endereço: Rua Ipiranga, 155 – Centro
Grátis
Visitação: de terça a sexta-feira, das
13h15 às 21h30, e sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h
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