Marco Abreu fala da Pirajazz, que celebra 19 anos com show nesta quarta
Por Henrique Inglez de Souza
A Pirajazz segue celebrando 19 anos de
carreira com uma apresentação nesta quarta-feira (24), às 20h, no Teatro
Erotídes de Campos (Engenho Central). A performance contará com as participações
de Pa Moreno & Hot Club Piracicaba e de José Roberto Paschoalini. Os
ingressos variam de R$ 15 a R$ 30 e podem ser adquiridos pela internet ou nas
bilheterias do local ou na loja Fractal Music Wear.
Variadas vertentes do jazz mundial e da
música brasileira serão exploradas. O repertório terá Emancipation Blues (Oliver Nelson), Against All Odds (Phil Collins), Night and Day (Cole Porter), Aquele
Abraço (Gilberto Gil), Triste
(Tom Jobim), entre outras de João Bosco, Michael Jackson, Earth Wind and Fire e
Ed Motta. A big band prestará um tributo a grandes arranjadores.
Entrevistamos o líder e diretor musical da
Pirajazz, Marco Abreu, uma figura experiente na música e, para tantos,
lendária. O saxofonista falou dos anos de estrada com o grupo, de sua história
e de jazz.
Como
o Pirajazz viu amadurecer o jazz em Piracicaba nesses 19 anos?
Piracicaba sempre foi um polo de músicos de sopro oriundos da banda da antiga Guarda Mirim. Teve algumas big bands nos anos 1950 e 1960 que faziam bailes com integrantes que também faziam parte da União Operária da época. Posso citar duas: Orquestra do Pedrinho e Olênio Veiga e sua orquestra. No final dos anos 1990, diversos bares cultuavam o jazz na cidade, e a Pirajazz veio nesse embalo, em 1997. Aqui fervilhava culturalmente, e era normal tocar jazz no Mascote Bar, The Dog and The Trumpet, Vila do Araken, Casa Velha etc. Hoje os bares tomaram rumos diferentes e o público foi empobrecendo, acompanhando essa tendência mercadológica.
Piracicaba sempre foi um polo de músicos de sopro oriundos da banda da antiga Guarda Mirim. Teve algumas big bands nos anos 1950 e 1960 que faziam bailes com integrantes que também faziam parte da União Operária da época. Posso citar duas: Orquestra do Pedrinho e Olênio Veiga e sua orquestra. No final dos anos 1990, diversos bares cultuavam o jazz na cidade, e a Pirajazz veio nesse embalo, em 1997. Aqui fervilhava culturalmente, e era normal tocar jazz no Mascote Bar, The Dog and The Trumpet, Vila do Araken, Casa Velha etc. Hoje os bares tomaram rumos diferentes e o público foi empobrecendo, acompanhando essa tendência mercadológica.
E a
banda, o quanto mudou a abordagem nesse período?
Dentro da proposta de shows temáticos, a
Pirajazz toca desde o jazz tradicional das big bands norte-americanas, como
Glenn Miller, Count Basie, Duke Ellington e Tommy Dorsey, a mais contemporâneos,
como Quincy Jones, Bob Mintzer, Paquito D'Rivera, e muita música brasileira.
Sempre procuro dar ênfase a compositores
brasileiros, pois jazz é uma forma de se tocar em que para cada povo há um
significado. Os norte-americanos consideram Tom Jobim e Milton Nascimento como
jazz, assim como o argentino Astor Piazzolla. Nosso sotaque jazzístico está no
samba e no suingue de nossa música.
Qual
é o tipo de jazz preferido do piracicabano?
O piracicabano é bem eclético, e muitas
vezes quer o estilo dixieland, que é uma forma que eles conseguem entender
porque podem participar da festa, indo atrás do cortejo, por exemplo. O público
com mais conhecimento gosta de performances de solistas improvisadores. Procuro
dosar o repertório para satisfazer os músicos de bom nível que tenho à
disposição e, ao mesmo tempo, fazer com que a plateia possa interagir. Na
verdade, o jazz tem um público restrito, e estamos fazendo um trabalho de longo
prazo para conquistá-lo definitivamente.
Quando
alguém te chama de lenda, no que pensa?
Mesmo tendo certa bagagem musical não me
acho uma lenda. Apenas acredito que minha contribuição maior é ter conseguido
agregar valores musicais em prol de um mesmo objetivo, que é fazer música, sem
apoio de leis de incentivo. Faço isso simplesmente por amor ao jazz e à música
de uma forma ampla e irrestrita.
Qual
foi a primeira música de jazz que ouviu na vida?
Comecei ouvindo chorões, e o jazz entrou
bem depois, com as big bands de Glenn Miller, Duke Ellington... Morando em Tatuí
(SP), ainda novo comecei ouvindo Dexter Gordon, Charlie Parker, John Coltrane,
Cannonball Adderley, Charles Mingus, Miles Davis, nos anos 1980 e 1990. Depois,
ouvi muito Michael Brecker, Bob Mintzer. De jazzistas cubanos, gosto de todos:
Paquito D'Rivera, Arturo Sandoval, Tito Puente, entre outros.
Como
se tornou um saxofonista?
Meu instrumento de origem foi a
clarineta, com a qual comecei em 1979, na banda da Guarda Mirim. O saxofone
veio em 1987, por enxergar um mercado mais amplo de trabalho. Acho essa palavra "saxofonista" tão forte que vou me definir sempre como um estudante e amante do
saxofone.
Qual
é o tipo de saxofone que usa ou que prefere?
Atualmente tenho tocado mais sax tenor,
mas é como perguntar a um pai qual filho ele gosta mais. Procuro usar todos com
a mesma maestria com que toco o tenor. Porém, hoje o tempo para se praticar é
exíguo. Então, procuro me manter como intérprete e executando o soprano, alto e
tenor, principalmente.
Qual
foi a origem da Pirajazz?
A big band foi formada com a intenção de
utilizar a mão de obra ociosa que, ao completar 18 anos de idade, saía da banda
da Guarda Mirim. Em busca de um caminho, alguns inseguros quanto a seguir a
carreira musical encontravam "chão" em nossos ensaios. Sempre levados a sério e
com repertório de alto nível, os ensaios os forçavam a estudar para integrar esse
projeto. Captamos bons valores, os quais vieram a se destacar e a galgar novas
posições dentro desses 19 anos.
Fale
do caminho que percorreu até formar a banda.
Além de estudar saxofone em Tatuí, onde
assisti a workshops de grandes saxofonistas, integrei a big band Prata da Casa
como solista durante anos. Também integrei a orquestra do maestro Osmar Milani,
Ed Costa Internacional, Leopoldo de Tupã e sua orquestra, atuando como
baritonista e clarinetista. Fazia sub [substituição] em outras orquestras, no
lugar de outros saxofonistas de São Paulo – na Zerró Big Band Project, Mário
Campos Big Band... Toquei com a Flávia Virginia, filha do Djavan, com a banda
de rock Os Ostras, com o Chico Batera.
Nessas
quase duas décadas, quais são algumas das lembranças mais marcantes que viveu?
Com certeza, a primeira apresentação foi
marcante. Aconteceu com a formação de big band tradicional no Centro Cultural
Gaia, da falecida Elen Tostes. Foi um choque quando viram vários músicos
entrando e se postando para tocar numa vernissage. Em 2002, o ex-presidente Lula e comitiva
desembarcaram para uma colação de grau. Teve um integrante da comitiva que veio
até nós, pensando se tratar de um DVD – tal a qualidade do som que estávamos
fazendo.
São coisas que marcaram, mas que não podem ser o mote principal do trabalho.
Estamos sempre criando novas histórias. Cada execução é um estado de espírito,
assim como definimos a palavra "jazz".
E
qual é o sabor de contar com o Hot Club de Piracicaba no show de quarta?
Essa ideia já vinha há tempos pela
afinidade musical. Depois de muito tempo hibernando, a ideia veio à tona este
ano, com o primeiro show realizado na Sala Maestro Ernest Mahle. A apresentação
culminou com a de quarta, que promete ser maravilhosa. Poder contar com músicos
sérios e que estão inseridos nesse propósito de colocar a cidade no rol de produtores
de jazz de qualidade não tem preço!
Marco Abreu merece o maior respeito. É um músico sério e competente, que faz um trabalho excelente à frente da Pira Jazz, que é um patrimônio da cidade. O Hot Club de Piracicaba se sente feliz e prestigiado com o esta performance conjunta.
ResponderExcluir