"A dramaturgia está muito ligada à vida", diz Michelle Ferreira, que dá oficina no Sesc
Por Naiara Lima
O texto falado, vivenciado em cena,
chama-se dramaturgia. Nele pode estar não somente aquilo que cada personagem
deve falar, mas também o que deve fazer e até mesmo o sentimento. Com a
proposta de explorar o tema, o Sesc Piracicaba promove a Oficina de Dramaturgia,
com a atriz, diretora e dramaturga Michelle Ferreira. O evento é gratuito e
acontece nesta sexta-feira (12), às 19h30, e no sábado (13) e domingo (14), às
13h30. A inscrição é gratuita, disponível neste link.
A artista desenvolve sua abordagem por
meio de exercícios práticos de escrita. Ela integrou o Núcleo de
Dramaturgia do CPT, sob a coordenação de Antunes Filho, trabalhou com Zé
Renato, Antônio Abujamra e Miguel Langone Jr. e teve suas peças encenadas por
Mario Bortolotto, Cacá Carvalho, José Roberto Jardim e Hugo Possolo. Foi duas
vezes finalista do Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia, do Instituto Camões
de Portugal, e participou do Projeto Ficção, da Cia. Hiato.
Michelle faz parte da Má Companhia Provoca, que
circula com a peça Os Médios – Um Relato
de Seres Terrestres Que Pilotaram a Nave. O grupo ainda tem no repertório os
espetáculos Os Adultos Estão na Sala
e Reality (Final) – todos de sua
autoria. Ela conversou com o PiaparaCultural
sobre a dramaturgia no Brasil e seu trabalho, confira!
Quando
falamos em dramaturgia, o senso comum nos remete a novelas e aos nomes mais conhecidos.
Na área do teatro, também há grandes figuras, de Nelson Rodrigues a Gerald
Thomas. Como você observa essa área no Brasil?
Eu tenho muito orgulho da dramaturgia do
nosso país, tanto a do passado como a contemporânea. Não tenho nenhuma "síndrome de vira-latas", nem algo parecido, só para citar Nelson Rodrigues.
Acho que antigamente tivemos gente muito incrível. Tivemos, sim, Nelson
Rodrigues, Plínio Marcos, Consuelo de Castro, Leilah Assumpção. E na
contemporaneidade temos nomes muito fortes – e eu estou, sem falsa modéstia,
dentro disso –, como Paulo Santoro, Silvinha Gomez, Marco Catalão, Alexandre
Dal Farra.
Há tantos nomes incríveis que estão
trabalhando bastante. Isso se deve muito a iniciativas, tanto do Antunes Filho
com o Núcleo de Dramaturgia quanto da Marici Salomão no British Council e SP
Escola de Teatro. Fora os que estão surgindo. Muita coisa potente, muita coisa
interessante e que fala do Brasil. Então, só vejo coisas boas para a
dramaturgia do Brasil e sua evolução.
Quando
percebeu que era hora de começar a escrever?
Sempre escrevi. Me alfabetizei muito
cedo. Com meus 5 e 6 anos, minha avó já me ajudava a escrever, e ajudou a me
alfabetizar. Quando tinha uns 9 ou 10 anos, meu avô me deu sua Olivetti, a
máquina de escrever. Aí comecei a escrever poemas, historinhas, e escrevia
muitos diálogos. Então, na verdade, sempre fiz diálogos. Escrevia de uma forma
dramática também, desde criança.
Bom, também sou atriz. Fiz faculdade de
teatro, fiz escola de arte dramática. Mas comecei a me profissionalizar, por
assim dizer, quando entrei no Núcleo de Arte Dramática do CPT, em 2003. Lá
fiquei por oito anos. Foi onde me profissionalizei, onde fiz muitas coisas com
Antunes Filho, onde dei meu primeiro grande salto para a carreira de
dramaturga. Agora, escrever sempre escrevi, sempre tive essa inquietude dentro
de mim.
Você
acha que existe uma diferença entre a dramaturgia feita por mulheres?
Não tem diferença nenhuma. Existem
dramaturgas fabulosas, que admiro muito, como Silvinha Gomez, Priscila
Coutinho. Acho que tem diferença de autor para autor. Cada autor tem um
universo específico, contundente. Mas não vejo diferença, nem para melhor ou
pior. Talvez apenas que na dramaturgia feita por mulheres haja mais personagens
femininos – o que, às vezes, falta na literatura dramática. Mas tirando isso,
não vejo diferença.
Existem
várias formas de se construir um texto dramatúrgico, especialmente para o
teatro. Qual é a sua?
Acho que é difícil descrever a forma
como a gente faz. São tantos os elementos... Posso dizer que só sento para
escrever no computador quando tenho toda a peça na minha cabeça. Enquanto isso,
me alimento, vejo coisas, leio coisas, vivo a vida, porque acredito que a
dramaturgia está muito ligada à vida, ao país, ao momento. Então, me abro para
isso e vou fazendo as minhas sinapses e algumas anotações.
Quando tenho o título, também tenho a
peça. É como se no título tivesse tudo o que preciso saber sobre aquilo que vou
desenvolver. Então, começo por ali, sento e começo a escrever. E quando começo
a digitar, só paro... bom, na verdade, não paro! É como se precisasse ir até o
fim. Depois, claro, elaboro e faço algumas versões. Porém, quando estou com
essa ideia pronta, trabalho muito insensatamente.
No
interior é muito raro pessoas que se dedicam a escrever. Como é o cenário em
São Paulo? Você acha que falta incentivo para essa área?
Não é que falta incentivo para escrever.
Na verdade, quando uma pessoa quer escrever ela precisa disso. É uma
necessidade, como comer e dormir. O que acho que falta, o que também acontece
nas artes do Brasil em geral, é a possibilidade de desenvolver uma carreira.
Eu, com muita luta, desenvolvo a minha. Trabalho bastante. Claro que se
compararmos em termos internacionais o dramaturgo poderia ser mais valorizado,
notado, ter mais atenção. Mas de modo geral, o que falta é essa perspectiva de
carreira. Entretanto, os incentivos estão aí. Sobre ir a Piracicaba, tomara que
as pessoas se sintam motivadas, e quem tiver isso dentro de si poderá dar um
passo rumo a esse desenvolvimento.
Serviço
Oficina
de Dramaturgia, com Michelle Ferreira
Quando: sexta-feira (12), sábado (13) e
domingo (14)
Horários: 19h30 (sexta) e 13h30 (sábado
e domingo)
Local: Sesc Piracicaba (Espaço de
Tecnologias e Artes)
Endereço: Rua Ipiranga, 155 – Centro
Grátis
Classificação: 16 anos
Inscrições neste link
Informações: (19) 3437-9292
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