Ramon Saci fala do recém-lançado primeiro EP digital do Cantoá
Por Naiara Lima
São três anos de existência da piracicabana Cantoá. Segundo seu vocalista, Ramon Saci, a banda nasceu com o propósito de sintetizar a alma brasileira, de destilar a cultura e potencializar a sua essência. Para dar o pontapé inicial nesses sonhos ousados, eles lançaram recentemente, via SoundCloud, seu primeiro EP, A Bênção. E é assim, pedindo essa permissão sagrada, que abrem oficialmente a carreira de trabalhos autorais.
São três anos de existência da piracicabana Cantoá. Segundo seu vocalista, Ramon Saci, a banda nasceu com o propósito de sintetizar a alma brasileira, de destilar a cultura e potencializar a sua essência. Para dar o pontapé inicial nesses sonhos ousados, eles lançaram recentemente, via SoundCloud, seu primeiro EP, A Bênção. E é assim, pedindo essa permissão sagrada, que abrem oficialmente a carreira de trabalhos autorais.
Além de Ramon Saci (violão, viola, voz),
o time tem Renato Chiarinelli (baixo), Lucas Fernandes (violoncelo), Edu Vianna
(percussão, flauta), Beto Oliveira (percussão) e Roger Fogaça (bateria). Samba,
maracatu, ijexá, baião, xote, frevo, bem como outras expressões da cultura
popular brasileira são fonte de inspiração para o grupo. A ideia é transmitir
uma mensagem positiva para o público, incluindo o intérprete de Libras nos shows.
Com três composições autorais (A Benção, Grito de Festa e Inês-Góta
Fonte), o EP é uma preparação para um projeto maior, o de um CD. Saci falou
ao PiaparaCultural sobre A Bênção e quais são as bênçãos que
a Cantoá deseja receber e oferecer ao público.
O Cantoá
lançou A Bênção pelo SoundCloud. Qual
seria a bênção que vocês mais desejam neste momento?
O objetivo do artista com sua arte é sempre
tocar as pessoas. O Cantoá tem uma missão muito importante nesse sentido, já
que se propõe a misturar ritmos musicais, juntar passado e presente e promover
um futuro de mais unidade. Acho que essa é a palavra-chave e é o que as músicas
transmitem de maneira geral. Seria uma bênção se nossa música pudesse tocar as
pessoas para esse sentimento de comunhão universal.
O
som de vocês nos remete a Chico Science, Nação Zumbi e outras bandas do
manguebeat. Quais são as suas referências?
Perfeito! Assim como Chico Science
fundiu a cultura local com o rock e a música eletrônica, que são elementos
modernos, o Cantoá busca uma integração das culturas regionais com os palcos da
modernidade. Além de Nação Zumbi, Zé Ramalho, Gonzaguinha, Lenine, Antônio
Nóbrega, Mestre Ambrósio, Gilberto Gil e Naná Vasconcelos são outras
referências.
O
que acham que tem de Piracicaba em suas composições?
Paira nas composições a essência do
homem caipira, do contato com a terra, da humildade, do respeito, do encantamento
com o mundo. Algumas músicas são executadas na viola para trazer justamente a identidade
sonora da nossa região. Porém, ainda estamos buscando essa mistura de moda de
viola com a música contemporânea. Os Pamonheiros, banda daqui da cidade da
qual, inclusive, fez parte o nosso baixista, Renato Chiarinelli, já havia feito
uma fusão de rock com moda de viola. Representou um passo importante. Enfim,
queremos dar um próximo passo.
Na
faixa A Bênção, vocês falam de
pontes, amor, fé no futuro, alegria de poder cantar. O que poderia nos comentar
sobre as canções do EP?
(Imagem: Reprodução) |
A Bênção
fala dessa tradição que havia de se pedir bênção aos avôs, como sinal de
subserviência e respeito. Essa é a abertura do show: pedimos a bênção e levamos
o axé (que significa energia, a força sagrada de cada orixá, que são os
arquétipos da religião afro-brasileira). A letra discorre sobre o amor. O ritmo
predominante é o maracatu, dando peso e ênfase à mensagem de abertura.
O
Grito de Festa
fala de festa mesmo, mas de uma maneira mais profunda. Tudo na modernidade
tende à banalização, por conta do processo de capitalização das coisas, que perderam
o valor em si mesmas. Porém, a festa é o prazer, é a libido que significa "anseio ou desejo", é a manifestação do ser feliz, do gostar. O ritmo nesta é o
ijexá, de origem afro-brasileira dos tambores do candomblé.
Inês-Góta
Fonte
é a mais densa da banda, um afro-rock. Juntamos o peso do rock com o suingue
africano para falar sobre a morte. A letra conta a história de uma mãe que vê o
filho morrer. Discorre sobre a fonte inesgotável. Fiz essa em São Paulo, depois
de passar próximo da cracolândia e ver muitas pessoas caídas no meio da rua. É
uma visão apocalíptica. A música sugere a natureza como resposta.
A
arte do EP me parece expressar bastante o conteúdo das músicas. De quem é?
Sim, o logo traz um peixe, que remete à
origem da vida, uma viola e um tambor, que remetem à origem da música
brasileira, e um índio, que faz referência às origens da formação do povo
brasileiro. O artista mora atualmente em São Paulo, chama-se Faggi.
Vocês
usaram o SoundCloud como plataforma de divulgação do EP. Como veem essas novas
tecnologias de divulgação de trabalho?
Estamos no meio da mudança de diversos paradigmas.
Acreditamos que a tecnologia pode ser bastante positiva, e acho que a
humanidade também está descobrindo como fazer bom uso dessas novas ferramentas
em sintonia com as questões ecológicas. É um momento muito bonito da história,
e também muito desafiador. O Cantoá está aprendendo e se apropriando nessas
novas formas de comunicação. Lançamos o EP e em menos de 24 horas tivemos bastante
retorno. Várias pessoas já entraram em contato para parabenizar e elogiar o
trabalho. O alcance é incrível: em cinco dias, tivemos 400 audições no
SoundCloud!
Quais
são os projetos para este final de ano e para 2017?
Temos três shows marcados: Estação
Cultural (13/10), Festival Pamonha Groove (14/10) e Sesc Bauru (30/10, em
Bauru/SP). Este ano, incluímos na nossa equipe o Glaucio Camargo, intérprete de
Libras e faz a tradução do show simultaneamente no palco, atendendo à
comunidade dos surdos.
Depois do EP, a nossa missão é lançar o
primeiro álbum completo da banda, reunindo as três músicas do EP e pelo menos
mais cinco composições, que já estamos cantando nas apresentações. Outro
objetivo para o ano que vem é a gravação de um videoclipe. Com certeza, o ano de 2017 será histórico para a
trajetória da banda!
Ouça o EP no player logo abaixo.
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