Temporada de 'Cantata Para Um Bastidor de Utopias' no Sesi começa esta sexta
Por
Naiara Lima
A história real da espanhola Mariana
Pineda Muñoz está no musical Cantata Para Um Bastidor de Utopias,
da Cia. do Tijolo. A jovem foi encontrada costurando uma bandeira do Movimento Liberal,
o que acabou levando-a à forca em 1831 – por desafiar o rei Fernando VI. A
montagem, que também faz referência à ditadura militar no Brasil, será
apresentada em três dias no teatro do Sesi: sexta (7), sábado (8) e domingo
(9), sempre às 18h, com entrada gratuita.
Os ingressos devem ser reservados pelo
sistema Meu Sesi. Aos primeiros
usuários, é necessário fazer um breve cadastro. A reserva vale para até 15
minutos antes da apresentação.
Cantata Para Um Bastidor de Utopias integra o 15º
Circuito Tusp de Teatro. Além do espetáculo, haverá um workshop com a Cia. do
Tijolo, intitulado O Ator Rapsodo. A oficina acontece no sábado (8), das 8h às
12h, no Ponto de Cultura Arte Garapa – inscrições devem ser feitas pelo e-mail:
tuspiracicaba@gmail.com.
Em 1925, Federico García Lorca adaptou a
passagem para a peça Mariana Pineda. Nela exaltava a
heroína com poemas e canções. Já em Cantata Para Um Bastidor de Utopias,
que faz referência a esse autor, a bandeira de Mariana continua sendo bordada,
e o texto do espanhol transformou-se em uma cantata. A direção é de Rogério
Tarifa e Rodrigo Mercadante, que conversou com o PiaparaCultural sobre a
montagem.
Vocês
unem três histórias, a de Mariana Pineda, a de Garcia Lorca e a da ditatura no
Brasil. Qual delas os motivou para as outras?
Acho que foi tudo ao mesmo tempo: o
texto, que gostávamos bastante, o Lorca, que é um escritor que adoramos, e a
temática da ditadura militar, que sempre esteve muito perto de nós. Foi uma
articulação desses três assuntos. Tratamos de estados de exceção.
Basicamente, o que une é a "presença"
dos desaparecidos políticos. Porque Lorca é um desaparecido político. Não se
sabe até hoje onde está seu corpo. A Mariana Pineda ficou desaparecida por
muito tempo, pois mudavam seu corpo de lugar para que não se organizasse um
culto à sua volta. Ela é uma heroína do século 19. E os desaparecidos políticos
brasileiros: muitos sumiram e ainda não se sabe onde estão. Aos poucos, descobrimos
que foram queimados ou temos outras informações.
(Foto: Alécio Cesar/Divulgação) |
Mariana
Pineda é flagrada costurando uma bandeira e, por isso, foi presa e enforcada.
Como trouxeram essa história de volta?
Na realidade, a Mariana Pineda foi
envolvida na luta contra a monarquia. Ela era considerada uma liberal, palavra
que na época significava uma coisa diferente de hoje. Era uma republicana, lutava
contra o rei. A ideia de ela continuar bordando é uma metáfora dessa figura que
continua pautando a vida por uma luta por mais liberdade, a democracia como a
construção de direitos que permitem a igualdade na diferença.
A trilha
sonora, de Jonathan Silva, foi bastante indicada a prêmios, e recebeu alguns
deles. Como sabemos que a Tijolo é muito musical, fale de sua composição e da
relação com a obra como um todo.
A maioria das músicas é do Jonathan, mas
também há composições coletivas. Tem a participação William Guedes, que fez a
direção musical. Pegamos o texto do Garcia Lorca, inspirado na vida dessa heroína,
e o musicamos inteirinho. Construímos uma cantata, uma obra musical. Toda vez
que surge o texto do Lorca, surge em música. E vai costurar a história. Não fazemos
apenas ele, há várias intervenções. Porém, o eixo principal, o que estrutura o
espetáculo, é essa peça que musicamos. Por isso é muito musical.
Soube
que haverá a participação de um convidado que viveu a ditadura no Brasil e
deverá relatar um pouco sua experiência no período.
Não temos muito controle do tempo do
espetáculo. No meio, temos uma cena com alguém com algo a dizer sobre esse
período. Nós já tivemos a participação de uma série de pessoas durante as
temporadas. A deputada Erundina, a Marilena Chauí, o Celso Frateschi, muita
gente da Comissão Estadual da Verdade, como a nacional.
São
convidados dos lugares em que se apresentam?
Sim. Ainda não sei o nome do convidado
para Piracicaba, mas será, sim, da cidade. A ideia dessa temporada pelo
interior de São Paulo é descobrir a história de resistência desses municípios,
que são muitas vezes considerados conservadores. Estamos percebendo que, na
verdade, existe uma história de movimentos muito grande nesses lugares.
Tem
mais alguma coisa que acha que valha a pena destacar do Cantata?
Fizemos essa montagem e pegamos um
período bem conturbado no país. Uma das teses que temos é que o Brasil foi um
dos únicos países que não fizeram justiça a esse momento [ditadura militar]. Anistiaram-se os dois lados e foi passada uma
borracha em cima disso, ou pensou que se passou. Então, você coloca um
torturador no mesmo lugar que um preso político. Algumas pessoas questionam
essa crítica, comentando "ah, mas os presos políticos, muitas vezes, foram de
guerrilha armada". E a resposta que se dá é que eles pagaram por isso.
O Frei Beto, que participou das nossas
mesas de discussão, ficou preso durante três anos. Foi julgado no terceiro ano
e condenado a um. Ele brinca que tem dois anos de bônus. Então tem essas
coisas... Corpos que foram incinerados...
O Brasil não teve a coragem de encarar o
fantasma da ditadura de frente, como fizeram outros países da América Latina. Por
isso, a tese que defendemos é a de que tem um rabo da ditadura que permaneceu muito
presente, e que é presente. Grande parte das questões que enfrentamos agora vem
do fato de que não conseguimos encarar esse monstro. Ele ressurge com a volta
de pessoas pedindo a ditadura militar, um deputado que tem a pachorra de
defender um torturador e estuprador em rede social.
PRÊMIOS
– Dentre
as indicações e prêmios, destacam-se: 26º Prêmio Shell nas categorias Cenário e
Música (indicado ainda na categoria Direção), prêmio da Cooperativa Paulista de
Teatro 2013, na categoria Projeto Sonoro (com outras três indicações: Melhor
Elenco, Trabalho em Espaço Não Convencional e Projeto Visual), indicado ao
Prêmio Governador do Estado para a Cultura 2013 e indicado pela Folha de S.
Paulo como uma das três melhores estreias do ano de 2013.
Serviço
Espetáculo
Cantata Para Um Bastidor de Utopias,
da Cia. do Tijolo
15º Circuito Tusp de Teatro Musical
Quando: Hoje, sábado (8) e domingo (9)
Horário: 18h
Local: Teatro do Sesi Piracicaba
Endereço: Av. Luiz Ralph Benati, 600 –
Vila Industrial
Grátis
Reservas: http://www.sesisp.org.br/meu-sesi
Classificação: 14 anos
Duração: 3h30 horas (aproximadamente)
Informações: (19) 3429-4433 (Tusp) e
(19) 3403-5928 (Sesi)
Workshop
O Ator Rapsodo, com a Cia. do Tijolo
Quando: Sábado (8)
Horário: 8h
Local: Ponto de Cultura Garapa
Endereço: Rua Dom Pedro II, 1.313 – Alto
Grátis
Inscrições: tuspiracicaba@gmail.com
Informações: (19) 3429-4433 (Tusp) e
(19) 3377-2001 (Garapa)
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