Rafael Cortez fala do show que apresenta este sábado no Teatro do Engenho
Por
Naiara Lima
Romance
das Caveiras,
de Alvarenga e Ranchinho, Pra Mó de
Chatear, de Tom Jobim, Peba na
Pimenta, de João do Vale, Fui ao
Dentista, de Moreira da Silva, e Samba
do Arnesto, de Adoniram Barbosa, são algumas das canções presentes no
espetáculo MDB – Música Divertida Brasileira, de Rafael Cortez e a banda
Pedra Letícia. O show também inclui intervenções de stand-up com Cortez e
Fabiano Cambota e será apresentado este sábado (8). São duas sessões no Teatro
do Engenho: às 19h e às 21h.
O projeto nasceu em abril de 2014 e rendeu
um CD com 14 canções pinçadas da história da música brasileira de maneira muito
bem humorada. Nas versões de Cortez, as composições ganharam ainda mais graça.
O espetáculo é composto por essas músicas e os comentários dos humoristas. Após
as sessões, o álbum será vendido no local.
A banda Pedra Letícia é conhecida por
unir rock e humor. Não por acaso, está no projeto idealizado por Rafael Cortez.
O humorista conversou com o PiaparaCultural sobre a empreitada, que circula
pelo interior por meio de ProAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de
Cultura do Estado de São Paulo. Chega a Piracicaba com a produção da Teatro GT.
Qual
é o formato do show?
É um show de música e stand-up. A ideia
é que entre uma música e outra façamos uma contextualização sobre a obra e o
compositor. O MDM é um projeto bastante didático, não é apenas divertido,
rock and roll, reggae, etc. Tem um papel sócio-educativo legal, pois traz canções
antigas de compositores que são ou não engraçados e que apresentamos em novas
versões. Houve um grande trabalho de pesquisa, com a curadoria do Zuza Homem de
Mello. Então, é bem embasado.
Para não ficar muito "professoral",
acadêmico, a nossa maneira é por meio do stand-up. O que vocês verão é isso: eu
e o Cambota, os vocalistas da banda, dialogando o tempo inteiro sobre a canção
que cantamos, seu compositor, qual será a próxima. Nisso entram temas de stand-up,
porque as músicas trazem assuntos que são bastante stand-up, como sogra,
dentista, avó, criança, comida, pobreza.
Fale
de como foi a escolha do repertório que irão apresentar.
Fiz uma primeira pesquisa de repertório
assim que tive a ideia, que veio do nada. Eu estava deprimido em 2013, porque estava
contratado na Record, mas não fazia nada. Meu projeto Got Talent Brasil não deu certo e eu fiquei na "geladeira".
Quando alguém diz isso, parece superlegal,
né? Ganhar sem precisar trabalhar parece legal, mas deve ser angustiante... É
horrível, porque o brasileiro honesto quer dar a sua contrapartida. Se está
recebendo, ganhando seu salário, quer fazer alguma coisa. Não é marajá, não é
mau caráter. Então, ou eu ficava muito deprimido, acordando tarde, bebendo e não
fazendo porra nenhuma da minha vida, ou ia produzir. Escolhi produzir!
Nessa época, estava indo muito à
academia. Um dia, escutava a música de um compositor maranhense chamado João do
Vale. Era engraçada. Enquanto ouvia, pensei que existe tanta coisa engraçada na
MPB, que ela poderia ser chamada de MDB, "música divertida brasileira".
Foi
uma sacada bem legal...
É, foi um insight! Fui para casa
correndo e comecei a pesquisar na internet, que tem uma coisa maravilhosa: hoje
em dia, em 2 minutos, você sabe de tudo. Pesquisei se alguém já tinha feito algo
desse tipo, focado no divertido da nossa música popular. Vi que vários
pesquisadores da MPB já fizeram compilações de aspectos diversos. Tem o Wagner
de Souza, o Rodrigo Faour, o próprio Zuza Homem de Mello, que pesquisaram a
política na MPB, a sensualidade, o futebol, o machismo. Porém, nunca teve o
humor na MPB, e pensei: "Ah, legal! Vou fazer um projeto totalmente focado nas
coisas engraçadas da MPB".
Havia muito material. Para chegar à
seleção final, uma vez que fechei a banda, falei com o Cambota que tinha
escolhido umas 30 músicas e que queria que ele ouvisse dez. Ele disse que tinha
outras dez. No final, acho que escutamos umas 60 composições juntos.
Conseguimos chegar às 14 finais batendo
bastante a cabeça. Havia coisas muito boas no original que não dariam para
fazermos cover. Entre estas, Chiclete de
Hortelã, dos Originais do Samba, e O
Circo Chegou, do Jorge Benjor – esta só ele fez bem (mesmo assim,
gravamos).
Por
que do recorte entre as décadas de 1920 e de 1980?
A pesquisa foi propositalmente focada
entre o período dos anos 1920 e 1980. Comecei pelos anos 1920, porque queria
mostrar que lá nos primórdios, na época dos nossos avós, o brasileiro já era
bem-humorado. Desde o samba do Sinhô, Carmen Miranda, queria mostrar que o bom
humor permeia a história da MPB e do brasileiro até hoje. A gente ri dos 7 a 1,
rimos das nossas mazelas. Quis mostrar que na música também acontece isso. Parei
nos anos 80 porque pressupomos que dessa época para cá as pessoas já têm um
conhecimento do que é engraçado na MPB, como Benedita do Breque, Ultraje a
Rigor, Mamonas Assassinas.
Vocês
costumam ensaiar antes de se apresentarem ou já estão bastante entrosados?
Se ficamos muito tempo sem fazer o show,
nos obrigamos a fazê-los. Mas ultimamente temos nos apresentado bastante por
conta do lançamento do CD. Há uma premissa no meu trabalho, assim como no do Cambota:
o espontâneo é bom. Por isso, nos damos bem. Se ensaiamos demais, ficamos
sabendo o que cada um vai falar, e isso não é legal. Precisamos ensaiar a ponto
de, musical e harmonicamente, ficar bom. Tem que tocar direito, ter as vozes
nos lugares. Não mais do que isso, pois quando erramos em cena é mais
interessante. Neste sentido, a comédia é libertadora. Estudei violão clássico, que
tem uma regra pelo preciosismo, virtuosismo. Quando comecei a fazer comédia, percebi
que podia errar. Foi libertador!
O MDB
já tem um CD. O projeto continuará ou é pontual, único mesmo?
Esse CD saiu como volume 1. Queremos
fazer o 2, o 3... Temos bastante material, muitas outras canções que só
conhecemos depois que apresentamos o projeto. Amigos e pais perguntam se
ouvimos isso ou aquilo, coisas sensacionais. Por exemplo, não entrou nada do
Vinicius de Moraes, que é genial. Tem coisa engraçada do Caetano... Então,
queremos continuar com shows, CDs. Só não fazemos mais porque é caro.
Sua
experiência musical é anterior ao MDB. Você tem um CD de violão erudito. Como começou
a sua relação com a música?
Eu era muito hiperativo na infância – sou
até hoje! Naquela época, isso me fez desenhar bastante, ter jornalzinho na
escola (era o redator-chefe, era metido a besta). Na adolescência, essa
hiperatividade se converteu numa depressão. Fui o estereótipo do adolescente
problemático: fumava cigarro o dia todo, faltava à aula. Estava indo por um
caminho errado. Precisava de algo para me salvar, e isso foi o violão.
Aos 17 anos, descobri o violão. Percebi
que ele era agregador, social. A primeira motivação que tive foi a de me tornar
popular. Eu era muito bicho do mato, moleque esquisito, cabelo comprido,
espinheto... Era um patinho feio na escola. E os caras mais legais eram os que
tocavam More Than Words [Extreme], que era o que tocava na época.
Falei: "Mãe, quero tocar violão para me tonar um cara legal". Porém, na medida
que fui aprendendo me apaixonei pelo instrumento, e nunca mais consegui me desvencilhar.
É uma coisa inacreditável! Sou fanático por ele! O violão surgiu assim, para
salvar a minha vida.
Foi
o que te levou para área de artes e comunicação?
Já sabia desde a infância que queria
seguir esse caminho. Ainda mais porque meu primo de segundo grau era o Raul
Cortez, uma referência muito forte. Na família, eu era o que mais babava ovo
para ele. Só o vi uma única vez na vida, mas, poxa, tinha um primo famoso! Achava
aquilo o máximo. Meu irmão tomou a dianteira e virou ator, o Leonardo Cortez. Tenho
um tio que trabalha nessa área, é muito renomado, é foda, então, percebi que
não dava. Mas daí vi que ninguém da família era músico, nem mãe, nem pai, e me
encontrei. Fui ser violonista clássico, fiz masterclasses, participei de
concursos, prestei vestibular de música... não passei.
O violão foi tão generoso na minha vida,
e vem sendo, que me possibilitou ir para outras artes. A primeira peça teatral
que fiz, só entrei porque tocava. Era um
bom músico e um mal ator, mas continuei. Fui fazendo outras montagens, até
flertar mesmo com o infantil e depois o humor.
No stand-up, eu era muito ruim, não
tinha diferencial nenhum, até que botei o violão no meu show e aí explodiu. Assim
vem sendo o instrumento na minha vida. Foi a melhor coisa que me aconteceu, em
termos de arte.
Serviço
Espetáculo
MDM – Música Divertida Brasileira,
com Rafael Cortez, Fabiano Cambota e banda Pedra Letícia
Quando: Sábado (8)
Horário: 19h e 21h
Local: Teatro do Engenho
Endereço: Av. Maurice Allain, 454 –
Parque Engenho Central
Ingressos: R$ 15 e R$ 30
Vendas: bilheteria do Teatro do Engenho
(das 14h às 18h, fone 3413-5212), Livraria Nobel – Shopping Piracicaba (com
taxa de conveniência, fone 3403-2727), Nobel Tivoli Shopping SBO (com taxa de
conveniência, fone 19 3473-0505) e pelo site www.bilheteriarapida.com.br/teatrogt
Call Center: 0800-735 0550
Valor do CD MDB: R$ 20
Informações: (19) 3413-5212 – www.teatrogt.com.br
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