Vânia Bastos faz show gratuito nesta quinta em Piracicaba [entrevista]


Altiery Monteiro

Por Henrique Inglez de Souza

Vânia Bastos apresenta-se nesta quinta-feira (10), às 20h, no Sesc Piracicaba (rua Ipiranga, 155 – Centro/ 3437-9292). Com entrada franca, o público verá o show Vânia Canta Caetano, com releituras de Caetano Veloso. O repertório orbitará em torno de seu disco de 1992, Cantando Caetano, embora haja novidades. Nós conversamos com a simpática cantora paulista, uma das mais belas vozes do Brasil.

A proposta da sua atual turnê é exatamente igual à do projeto que envolveu o disco Cantando Caetano?
Não, exatamente. Nesse show atual, canto um monte de coisas que estão no disco, mas tem outra porção que não. São músicas que nunca cantei. Achei legal dar uma misturada, e as antigas até obedecem os arranjos que tinham. O Ronaldo Rayol, que é o diretor musical, mexeu um pouquinho nas antigas e bolou roupagens para as novas.

Legal! Até porque o Caetano também fez trabalhos interessantes nesses últimos anos.
Ele fez, sim, mas a maior parte do que canto vem lá de suas antiguidades – não tão antiguidades, mas composições gostosas.

O que te inspirou a resgatar esse álbum na estrada?
Um pessoal de Santo André/SP sugeriu isso. Sabe quando dá o estalo do "oba, por que não"? Claro que deu um trabalho bom remexer ali tanto tempo depois, mas deu uma alegria por também estar fazendo outras coisas. Reacendeu! E vi que o público é bastante simpático a essa ideia, acata muito bem, gosta do Cantando Caetano. Há quem me fale: "Te conheci por causa daquele disco". Isso me dá uma alegria, porque tem coisas que você só fica sabendo bem depois. Na época, não tinha tanta noção do alcance, e agora percebo tudo com mais clareza.

Se fosse gravar esse disco hoje, o que acha que seria mais diferente em relação ao de 1992?
Acho que as músicas mesmo, e o arranjador é outro. Na época, foi o Paulo Bellinati, já o atual [da turnê] foi o Rayol. Esse show de agora está superbem amarrado, e tem uma unidade, além de mais músicas – são 16 músicas, enquanto que o outro era mais curtinho. Há canções de que gosto muito, como Qualquer Coisa, Gente, Luz do Sol, e as que nunca tinha cantado, tais quais Leãozinho, Sampa, Menino do Rio, Trilhos Urbanos, Odara, Queixa e Muito, que é linda.

Se pararmos para pensar, são quase dois mundos completamente diferentes o de 1992 e o de 2016. Mudou muito o jeito como o público consome a sua música?
Você sabe que eu não sinto tanto isso? Claro que a minha carreira se desenvolveu mais de lá para cá, já fiz muito mais shows viajando pelo Brasil todo... e ainda era o meu terceiro disco. Então, a minha carreira ficou mais sólida e tal, e, por conta disso, do tempo e de tudo o que fiz, o público foi aumentando. Mas existe uma fidelidade de quem vai ver música brasileira ou gosta de um cantor, de uma cantora. As pessoas gostam das vozes, e isso é tão legal.

O que faz uma pessoa se arrumar e sair de casa para ir ver um show de quem nem sempre está na televisão, que não toca em rádio o dia inteiro, nada disso? Acho que há aquela coisa do timbre causar alguma emoção. O timbre, a maneira de cantar, é que fala com a sua alma. E cada um te causa uma emoção. É legal ver que as pessoas são fiéis a esse sentimento, ou porque gostam da sua voz.

É mesmo, né? Som, cheiro e imagem são instrumentos de nostalgia bem fortes.  
Muito fortes! Muito, muito! Chega ao inexplicável, e isso é o que move.

Você é de pesquisar e consumir música na internet?
Eu sou meio calminha, até. Não sou de ficar "ah, tem novidade não sei onde, quero ouvir". Vou com calma porque acho que isso tem que chegar na gente. É claro que sou bastante aberta – tenho filhos novos que me mostram coisas –, mas sou meio tranquila.

O que tem fisgado mais o seu coração ultimamente?
Olha, a minha filha compõe – a Rita Bastos. Ela gravou um disco, e gosto bastante do seu jeito. Das meninas, gosto da Tulipa Ruiz. Vi um programa Ensaio [TV Cultura] com ela e adorei! A Roberta Sá é ótima... Há muita gente pipocando por aí, porém, dessa turma, gosto mais da Tulipa. Ela tem uma consistência bem grande, uma voz poderosa, e o trabalho é interessante. Da minha filha, o disco é muito bom, entretanto, ainda não pegou a trilha de shows, de sair pelo Brasil. Mas a hora que engrenar...

Você vem de uma das últimas gerações de grandes intérpretes. Por que o cenário anda tão diluído, nesse aspecto?
São várias razões. O negócio de gravadora que se diluiu, as rádios... Na minha época, quando comecei a cantar, achava que era bem normal, natural, gravar um disco e, aí, o material ia para as rádios e passava a tocar. Santa ingenuidade a minha [risos]! Quando gravei, já não era mais assim. Nasci em Ourinhos/SP, e vim com aquele sonho dos tempos de Gal Costa, Elis Regina, Caetano, Novos Baianos, Clube da Esquina... uma geração em era comum que os discos nas vitrines das lojas fossem os que estavam nas rádios. Depois é que começou a virar esse negócio de jabá, que o bendito dinheiro começou a passar na frente de tudo. Agora, então, já virou a página mesmo, é outra coisa! Está descarado.

Há poucas rádios de música brasileira, e as que existem, a maior parte é comprada. Tive de me conformar com isso, sabe, para não ficar zangada. Falei: não, não nasci para isso, vou fazer o que sei fazer, e o barquinho vai [risos]! Que bom que estou perto dos meus 60 anos "por dentro", como se estivesse começando! Tenho aquela alegria de cantar, aquele tesão de fazer show, o friozinho na barriga, a alegria que dá quando vou ensaiar e o som ficou bonito, como o imaginado. Isso, sim, é o bacana da música, é quando a música fala mais alto. É aquela chama que não se apaga.

Você não lança um novo álbum de estúdio há cerca de seis anos – é o maior intervalo de sua carreira. Tem previsão para encerrar esse jejum?
Daqui a alguns meses deve sair um disco que estou fazendo com o Marcos Paiva. Ele vem fazendo um trabalho muito bom sobre o Pixinguinha. O disco é de nós dois, e está sendo bem legal. É interessante ouvir o Pixinguinha diferente – com respeito, porém diferente. Já estamos acabando de gravar. Estou bem animada.

O que jamais imaginaria ver ou viver depois dos 30 anos de carreira que se mostrou uma grande surpresa?
Aconteceu uma coisa comigo que me surpreendeu, sim! O Cauby Peixoto quis cantar comigo. Gravei em seu DVD Cauby Ao Vivo 60 Anos de Música, com vários convidados. Depois de sugerir nomes de toda a MPB e ele não se interessar, seu produtor perguntou quem queria, e o Cauby falou: "A Vânia! É muita afinada e quero cantar com ela". Olha, que belezinha! Nossa, isso, para mim, foi um luxo do além! E em várias outras ocasiões depois desse disco cantamos juntos. Ele é bonitinho! Toda vez que nos encontramos, diz: "Nós vamos fazer um show, não vamos?" Achei demais, porque desde que sou gente ouço falar a seu respeito e tal. E ele está com uma voz tão linda, cantando até mais bonito do que cantava.

Outra coisa ótima que me aconteceu foi ter feito novamente os shows com o Arrigo Barnabé – tanto com banda como com piano e voz, ele e eu. Ter podido fazer isso depois de 30 anos de Clara Crocodilo e Tubarões Voadores, sabe? E nós ainda bem para estarmos no palco. A vida dá umas voltas boas!

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