"A arte é vasta", diz Elza Soares, que toca nesta quinta em Piracicaba

Matheus José Maria/Divulgação

Por Henrique Inglez de Souza

Piracicaba recebe nesta quinta-feira (17), às 20h, uma das maiores vozes do Brasil. Elza Soares está em turnê divulgando seu mais recente e premiado álbum de estúdio, A Mulher do Fim do Mundo. O trabalho vem recheado de ineditismo dentro da extensa carreira da cantora carioca. A começar, é o primeiro dela composto somente por músicas inéditas. Além do mais, estilos variados são explorados para tratar de algumas das temáticas cruciais que movimentam a sociedade. Isso tudo com um espetáculo visual, teatral e denso, criativamente falando, idealizado pelo produtor e baterista Guilherme Kastrup. 

O show acontece no ginásio de eventos do Sesc Piracicaba (rua Ipiranga, 155 – Centro), com ingressos que vão de R$ 12 a R$ 40, disponíveis nas bilheterias da unidade ou na internet (compra limitada a quatro entradas por pessoa). Nós conversamos com essa que é das damas da música nacional. Delicie-se!

Seu último disco de estúdio havia sido Vivo Feliz, um trabalho basicamente otimista. Que tipo de evento ou acontecimento te levou a querer mudar o tom para A Mulher do Fim do Mundo?
Não é que eu queira mudar o tom. É que sou uma criatura que não se conforma com uma coisa só. Para mim, as coisas têm que andar. Se você fica batendo com um martelo no mesmo prego a vida toda, não adianta. Tem que mudar! Acho que a música é para se investigar e cantar de uma maneira que não temos que permanecer ali, batendo em um único ritmo, não.

Você trata de temas que estão na boca da realidade, e que são questões que se perpetuam há muito tempo. Em sua opinião, por que ainda há tanta má vontade em algumas pessoas para evoluir e superar pontos tão essenciais?
Meu amigo, a vida está aí, não está? Se há algo que temos que buscar é a evolução. Não se pode ir para trás. Tem que caminhar, e caminhar é o que faz você ir buscar temas que acontecem na sociedade, temas de que realmente tem vontade de falar, como o que falo nos shows. Falo da mulher, da negritude, do homossexual... Falo de tantas coisas nesse disco que você não calcula.

Sim, e são questões humanas, reais. É curioso, porque nós vemos a humanidade avançar numa parte, por exemplo, na tecnologia, e em questões tão essenciais permanece estacionada, presa.
É horrível, horrível, horrível! O negócio não é ficar preso ao passado; o negócio é a evolução! Porque a vida anda, e se você não dá continuidade ao seu andamento, também irá ficar para trás – você não é tecnologia, né? Então, fica para trás!

Qual é o sabor de lançar o primeiro disco somente com canções inéditas em mais de 60 anos de carreira e mais de 30 discos?
Matheus José Maria/Divulgação
É muito saboroso! Dá um prazer imenso fazer isso. Para mim, foi um presente, um prêmio, e estou muito feliz com isso. O Guilherme Kastrup organizou o CD, visualizou o show, tudo foi elaborado por ele, que teve uma visão bem ampla do trabalho. E o show está lindo, além de uma banda boa para chuchu! Uma banda quente, formidável!

Como foi a sua participação no processo de composição e arranjo, já que são todas canções inéditas?
Foram 50 músicas elaboradas para eu cantar, feitas especialmente para mim. Dessas tiramos o CD – eu e o Guilherme Kastrup. Nós ficamos sentados no chão escolhendo as canções.
 
Você está rodando o país com um espetáculo que é vasto e complexo, criativamente e do ponto de vista da produção. Por que optou por uma espécie de ópera?
Foi livre, cara! Com quem busca acontece isso. Se ficar parando, não irá conseguir nada. Então, você faz a busca, e a busca te dá a isso, mais contexto.

O disco está plural, eclético, saboroso, mas jamais se imagina o impacto que se tem ao vê-lo no palco. O material foi gravado levando em conta a turnê assim, ou a montagem surgiu depois?
É verdade, ele impacta. A gente pensava na turnê, mas não que fosse ter uma repercussão tão grande e maravilhosa como está tendo. Há uma juventude maravilhosa nos seguindo. Fiz um show em Rio Negrinho [Paraná] e havia mais de 20 mil pessoas, tudo garotada, meninada, cantando comigo. Foi lindo, lindo, lindo... É muito gostoso!

A resposta bem-sucedida que o projeto como um todo está tendo não te inspira a ampliá-lo, por exemplo, transformando-o em um filme ou algo assim?
Nós estamos para fazer um videoclipe e seguir com ele.

Em um mundo tão bagunçado por conta da internet e da crise na indústria fonográfica, o sucesso de A Mulher do Fim do Mundo te surpreende, de alguma forma?
Me surpreende, porque o meu disco não é tocado em rádio, né, e tem sucesso! Então, me surpreende muito a força do CD, a força desse show, de não tocar nas rádios e ver o povo querendo ir às apresentações. Todo mundo querendo ir! Fico muito feliz.

Sua carreira tem sempre um quê de novo, arejado, muito por conta do seu desprendimento criativo. Há algum outro estilo que pretenda explorar?
Não, ainda não. Nós estamos muito focados em A Mulher do Fim do Mundo, então, não há nada em mente ainda – só o disco, né, que está começando agora. Não podemos atrapalhar esse projeto.

Às vezes, vejo em entrevistas, inclusive com você, perguntarem aos músicos sobre aposentadoria. Esse tipo de coisa te incomoda?
Coisa horrível, né? Isso me incomoda muito! Eu acho que nós ainda temos vida, cara! Temos vida, temos raciocínio, entendeu? Pelo amor de Deus! Fico incomodada porque o CD não toca nas rádios, mas também fico muito feliz porque ele tem respostas. Se tocasse nas rádios seria muito melhor, lógico – é óbvio! Porém, como não toca, nós vamos ganhando público. Em cada estado que chegamos, é um alvoroço maravilhoso.

É como um brinde ao destino pela sua carreira toda, não é?
É verdade! É um presente divino, sabe? Me sinto abraçada com ele.

Elza, a arte tem limite?
Não! Que limite tem a arte? Arte é vasta, ela é aberta, é ilimitada!

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