"A arte é vasta", diz Elza Soares, que toca nesta quinta em Piracicaba
Piracicaba recebe nesta quinta-feira (17), às 20h, uma
das maiores vozes do Brasil. Elza Soares está em turnê divulgando seu mais
recente e premiado álbum de estúdio, A Mulher do Fim do Mundo. O
trabalho vem recheado de ineditismo dentro da extensa carreira da cantora
carioca. A começar, é o primeiro dela composto somente por músicas inéditas.
Além do mais, estilos variados são explorados para tratar de algumas das
temáticas cruciais que movimentam a sociedade. Isso tudo com um espetáculo
visual, teatral e denso, criativamente falando, idealizado pelo produtor e
baterista Guilherme Kastrup.
O show acontece no ginásio de eventos do Sesc
Piracicaba (rua Ipiranga, 155 – Centro), com ingressos que vão de R$ 12 a R$ 40, disponíveis nas bilheterias da unidade ou na
internet (compra limitada a quatro entradas por pessoa). Nós conversamos com essa
que é das damas da música nacional. Delicie-se!
Seu último disco de estúdio havia sido Vivo
Feliz, um trabalho basicamente otimista. Que tipo de evento ou acontecimento
te levou a querer mudar o tom para A Mulher do Fim do Mundo?
Não é que eu queira mudar o tom. É que sou uma
criatura que não se conforma com uma coisa só. Para mim, as coisas têm que
andar. Se você fica batendo com um martelo no mesmo prego a vida toda, não
adianta. Tem que mudar! Acho que a música é para se investigar e cantar de uma
maneira que não temos que permanecer ali, batendo em um único ritmo, não.
Você trata de temas que estão na boca da realidade, e
que são questões que se perpetuam há muito tempo. Em sua opinião, por que ainda há tanta má vontade em algumas pessoas para evoluir
e superar pontos tão essenciais?
Meu amigo, a vida está aí, não está? Se há algo que
temos que buscar é a evolução. Não se pode ir para trás. Tem que caminhar,
e caminhar é o que faz você ir buscar temas que acontecem na sociedade, temas
de que realmente tem vontade de falar, como o que falo nos shows. Falo da
mulher, da negritude, do homossexual... Falo de tantas coisas
nesse disco que você não calcula.
Sim, e são questões humanas, reais. É curioso,
porque nós vemos a humanidade avançar numa parte, por exemplo, na tecnologia, e
em questões tão essenciais permanece estacionada, presa.
É horrível, horrível, horrível! O negócio não é ficar
preso ao passado; o negócio é a evolução! Porque a vida anda, e se você não dá
continuidade ao seu andamento, também irá ficar para trás – você não é tecnologia,
né? Então, fica para trás!
Qual é o sabor de lançar o primeiro disco somente com
canções inéditas em mais de 60 anos de carreira e mais de 30 discos?
Matheus José Maria/Divulgação |
Como foi a sua participação no processo de composição
e arranjo, já que são todas canções inéditas?
Foram 50 músicas elaboradas para eu cantar, feitas
especialmente para mim. Dessas tiramos o CD – eu e o Guilherme Kastrup.
Nós ficamos sentados no chão escolhendo as canções.
Você está rodando o país com um espetáculo que é vasto
e complexo, criativamente e do ponto de vista da produção. Por que optou por uma espécie
de ópera?
Foi livre, cara! Com quem
busca acontece isso. Se ficar parando, não irá conseguir nada. Então, você
faz a busca, e a busca te dá a isso, mais contexto.
O disco está plural, eclético, saboroso,
mas jamais se imagina o impacto que se tem ao vê-lo no palco. O material foi
gravado levando em conta a turnê assim, ou a montagem surgiu depois?
É verdade, ele impacta. A gente pensava na turnê, mas
não que fosse ter uma repercussão tão grande e maravilhosa como
está tendo. Há uma juventude maravilhosa nos seguindo. Fiz um show em Rio
Negrinho [Paraná] e havia mais de 20 mil pessoas, tudo garotada, meninada, cantando comigo. Foi lindo, lindo, lindo... É muito gostoso!
A resposta bem-sucedida que o projeto como um todo
está tendo não te inspira a ampliá-lo, por exemplo, transformando-o em um filme
ou algo assim?
Nós estamos para fazer um videoclipe e seguir com ele.
Em um mundo tão bagunçado
por conta da internet e da crise na indústria fonográfica, o sucesso de A
Mulher do Fim do Mundo te surpreende, de alguma forma?
Me surpreende, porque o meu disco não é tocado em
rádio, né, e tem sucesso! Então, me surpreende muito a força do CD, a força
desse show, de não tocar nas rádios e ver o povo
querendo ir às apresentações. Todo mundo querendo ir! Fico muito
feliz.
Sua carreira tem sempre um quê de novo, arejado, muito
por conta do seu desprendimento criativo. Há algum outro estilo que pretenda explorar?
Não, ainda não. Nós estamos muito focados em A
Mulher do Fim do Mundo, então, não há nada em mente ainda – só o disco,
né, que está começando agora. Não podemos atrapalhar esse projeto.
Às vezes, vejo em entrevistas, inclusive com você,
perguntarem aos músicos sobre aposentadoria. Esse tipo de coisa te incomoda?
Coisa horrível, né? Isso me incomoda muito! Eu acho
que nós ainda temos vida, cara! Temos vida, temos raciocínio, entendeu? Pelo amor de Deus! Fico incomodada porque o CD não toca nas
rádios, mas também fico muito feliz porque ele tem respostas. Se tocasse nas
rádios seria muito melhor, lógico – é óbvio! Porém, como não toca, nós vamos
ganhando público. Em cada estado que chegamos, é um alvoroço maravilhoso.
É
como um brinde ao destino pela sua carreira toda, não é?
É verdade! É um presente divino, sabe? Me sinto
abraçada com ele.
Elza, a arte tem limite?
Não! Que limite tem a arte? Arte é vasta, ela é aberta,
é ilimitada!
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