'Em Alguma Margem, no Rio' [teatro]: começa neste sábado temporada em Piracicaba

Ivana Debértolis/Divulgação

Por Naiara Lima

Inspirado no universo poético de Guimarães Rosa, em especial no conto A Terceira Margem do Rio, Paulo Barcellos encena o monólogo Em Alguma Margem, no Rio no Ponto de Cultura Garapa, em Piracicaba/SP. Ao todo, serão oito apresentações, entre 12 de março e 3 de abril, aos sábados e domingos, sempre às 20h. O valor dos ingressos varia de R$ 8 a R$ 20. 

A peça foi criada em 2002, a partir de uma pesquisa dramatúrgica e cênica realizada no Ágora CDT (Centro para o Desenvolvimento Teatral), em São Paulo, sob a direção de Jairo Mattos. Na história, um homem desce o rio com uma canoa, mas a embarcação acaba se prendendo em um tronco. Já delirando por conta do forte sol do sertão, o herói vê a tora se transformar numa espécie de esfinge que impõe uma condição: a de ele contar a sua história para que possa continuar a viagem. O texto é de Viviane Dias e foi vencedor do Encena Brasil 2001 (prêmio federal de estímulo à produção).

Integrante também da primeira montagem, Barcellos conversou com o PiaparaCultural. Falou sobre como foi e ainda está sendo fazer o espetáculo. O artista (além de ator, ele é iluminador, educador teatral e diretor) é um dos fundadores do Armazém Cia. de Teatro (Rio de Janeiro) e do Coletivo Bruto. Mora em Piracicaba desde 2013 e já se apresentou na cidade com a peça Mentira, realizada no bairro Monte Alegre.

Qual é a principal diferença da peça de 2002 para a que você apresentará no Garapa?

Não há diferença nenhuma, em termos estruturais - de dramaturgia, encenação etc., mas resgato esse trabalho de tempos em tempos. A cada novo momento, me encontro com um nível de profundidade que a maturidade e a experiência nos possibilitam alcançar. Em cada resgate, surgem pontos do texto que estavam submersos, trazidos à tona também pelo espírito de nosso tempo.

O que te levou a querer resgatar esse trabalho?

Não sei te responder objetivamente. Passa por uma escuta de desejo. O conto A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, no qual a montagem tem forte inspiração, tem também esse aspecto: não sabemos ao certo por que aquele homem decide ficar em sua canoa no meio do rio. É uma outra via, outra margem, que nos causa um espanto, às vezes apenas por não termos passado por algo semelhante. E isso nos intriga. Cabe ao artista se colocar em experimento nessa outra margem. Buscar novas vias, novas formas de relação.

Tem alguma frase de Em Alguma Margem, no Rio que resuma a montagem ou que te inspire durante a apresentação?

Esse trecho não me inspira durante a apresentação em si, mas é um mote para me colocar em experimento, estar aberto, desarmado, em escuta, e que sempre me salta aos olhos quando é dita no ato: "E o velho me ensinou. Liberdade corre, nunca se aprisiona. Um fala: Sou livre. E já se perdeu. Vida de fluxo no rio de todos".

Ivana Debértolis/Divulgação

Você se apresenta sozinho, mas utiliza algum recurso visual ou de música?

Sim, mas são poucos recursos. A assertiva encenação de Jairo Mattos prioriza a simplicidade, a palavra, o texto. As imagens e os pensamentos construídas pela narrativa nesse belo texto de Viviane Dias ganham uma outra dimensão justamente por essa opção. A palavra. E é justamente nesse encontro com a palavra que me coloco em movimento.

Sobre a plateia, você sente diferença entre o público paulistano e o do interior?

Não sinto, mas vejo uma diferença. Explico: um público não é uma massa disforme, igual, homogêneo. Mesmo em São Paulo, e aqui também, dependendo de onde você se apresenta, qual valor de ingresso, se é uma única apresentação ou temporada, em qual teatro, tudo isso direciona em certa medida com quem está dialogando. Ainda assim, dentro desse recorte, o público é sempre heterogêneo. E é bom que seja assim. Claro, uma temporada possibilita isso mais do que um evento. Então, quando digo que não sinto diferença é justamente porque as opções que faço, na medida do possível, vão sempre no sentido do plural.

Imagine dialogar apenas para uma determinada classe social, dependendo do valor do ingresso! Ou apenas com uma categoria, a do teatro, por exemplo. É conversar com "os seus", falar do seu mundinho, sem risco, já antevendo as respostas, mesmo que sejam contrárias. Em certa medida, seria um pouco "covarde", não? Teatro é público, e ninguém deveria ser privado dessa experiência.

Serviço

Em Alguma Margem, no Rio, com Paulo Barcellos

Temporada: de 12/03 a 03/04 (Sábados e domingos, às 20h)

Local: Ponto de Cultura Garapa

Endereço: Rua D. Pedro II, 1313 - Cidade Alta

Ingressos: R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 8 (promocional, para estudantes, funcionários e professores da Unimep - com apresentação de documento da instituição)

Venda: no local, com 1 hora de antecedência

Duração: 50 min

Informações: (19) 3377-2001