Companhia de Piracicaba leva teatro e literatura em Kombi às comunidades
Divulgação |
Por Naiara Lima
Dedicar-se a um sonho é para poucos, e um casal de
Piracicaba/SP resolveu enfrentar esse desafio no início de 2008. Desde então, Fernando
Cavallari e Roxane Souza Cavallari mantêm a companhia Teatro de Fantoches – Cia.
Atitude, cuja proposta é levar alegria e informação às crianças.
No projeto Missão Brasil, os atores rodam por praças e
espaços públicos com uma Kombi cheia de livros, gibis, revistas, acessórios,
figurinos, fantoches e inúmeras histórias para contar. Ao PiaparaCultural, Fernando Cavallari falou por que mudaram de rumo e se tornaram, com isso, eternos
aprendizes da vida.
O que os motivou a saírem por aí, rodando com uma
Kombi e se apresentando em praças?
Quando criança, meu sonho sempre foi ter uma Kombi em
que imaginava levar toda a família. Mas a minha família não teve condições de
comprar uma, os anos passaram, e o sonho ficou guardado em meu coração. Depois
de um bom tempo, já casado, eu e a minha mulher conseguimos juntar dinheiro com
muito esforço e comprá-la.
Até a infância, o sonho era somente ter o automóvel
para levar a família. O projeto nasceu quando, certo dia, estávamos
descendo a Serra do Mar e o freio do Chevette '88 em que estávamos acabou.
Naquele momento, em segundos, passou um filme na minha cabeça, e pedi a Deus que
nos salvasse. A um passo da morte, o carro descia em grande velocidade e a
Roxane, sem saber de nada, pedia para parar de correr. Ela nem imaginava que
o freio tinha falhado, até que paramos sobre uma pedra – a poucos metros do
penhasco. Foi um grande susto, mas a partir daquele dia comecei a
valorizar as coisas mais simples da vida e a ver como são belas e importantes.
E foi com as crianças que fui aprendendo e ser um apaixonando pela vida.
Escrevi todo o projeto e o coloquei em execução. A cada
apresentação, nossos corações alegravam-se e o carinho das pessoas nos
contagiavam. Foi assim que ele nasceu.
Então, esse foi o começo do Missão Brasil?
Ficamos três anos nos apresentando com uma casa de
fantoches feita de panos e canos de PVC, os quais eram transportados em malas.
Viajamos por várias cidades, mas lembra do sonho de infância da Kombi? Então,
em 2011, conseguimos comprá-la e a transformamos num espaço lúdico e cultural, em
que a janela se transformou nos espetáculos dos fantoches e a frente, em
palco das apresentações teatrais e dos contadores de histórias.
Dentro do automóvel, transportamos caixas de livros, os quais, assim que chegamos às praças, são pendurados em varais nas árvores. Depois,
convidamos as pessoas a mergulhar no mundo da literatura.
Qual era a profissão de vocês antes?
Eu era vendedor e a Roxane, recepcionista.
Vocês já tinham experiência teatral?
Meu primeiro contato foi de forma bem
básica, fazendo teatro na época da escola. Já a Roxane não tinha experiência
nem contato. Quando começamos a nos apresentar, em 2008, tínhamos o básico do
básico. Em 2013, concluímos o curso de Artes Dramáticas no Senac Piracicaba. Porém,
de um tempo para cá, temos sempre participando de oficinas e workshops,
palestras, cursos etc.
Como foi iniciar essa busca por aprendizado?
A busca surgiu quando começamos a colocar em prática
as nossas ideias e os projetos. Vimos o quanto tínhamos de melhorar, aprender
mais e buscar conhecimentos. Quando você passa a ter referências, vê o quanto
precisa melhorar.
A cada dia tentamos aprender mais para fazer um
trabalho bonito e com qualidade. É algo que requer tempo, investimento,
disposição e perseverança. Constantemente incorporamos novas técnicas,
estudando e mergulhando no mundo teatral, seja na região ou também na capital.
Como funciona o Missão Brasil, hoje em dia?
Geralmente planejamos onde vamos nos apresentar. Escolhemos
uma praça ou uma rua, pedimos as autorizações do espaço e, assim que cedida,
realizamos o evento. Analisamos lugares com fácil acesso para as pessoas – um local arborizado, o número de crianças e
adultos, como iremos convidar as pessoas...
Quais são os temas das apresentações?
Temas como reciclagem e preservação da
natureza. Assuntos que despertem crianças e adultos. Neste ano, trabalhamos com o
espetáculo Você é Feio ou Bonito, que aborda algo bem importante,
o bullying. Onde passamos levamos uma mensagem de conscientização.
Divulgação |
Também apresentamos o espetáculo A Criança e o
Celular, em que convidamos as crianças a aproveitarem melhor os espaços
públicos, a natureza, a arte do brincar e também a saírem do universo
tecnológico, tal qual o uso excessivo da internet, celulares e jogos.
Que tipo de preparação tiveram?
Para a montagem do espetáculo ou a arte de contar
histórias, pesquisamos sobre cada assunto. Desde que iniciamos o
projeto, temos nos aperfeiçoado. Nesse período, estudamos para ser atores
profissionais.
A Kombi tem uma biblioteca. O que há exatamente nela?
Há cerca de 250 unidades (livros, gibis,
revistas etc.). Os livros foram adquiridos por meio de doações. De porta em porta,
fomos pedindo livros para as pessoas, e ganhamos de todos os gêneros (infantil,
drama, ação, culinária, enciclopédia...). Quando recebemos as obras, fazemos
uma seleção em que damos preferência àqueles de leitura rápida. A maior parte é
infantil, mas temos títulos de grandes clássicos da literatura nacional e
internacional.
Também disponibilizamos revistas e jornais, porque, além das
crianças, o público adulto frequenta o projeto – geralmente os pais, os avós,
trazem os filhos, netos, e ficam e se interessam pela biblioteca. Nós doamos os
que não aproveitamos.
Como a biblioteca é utilizada pelas crianças durante
os eventos?
Os livros são pendurados em varais, presos com
prendedores. Daí, as crianças e os adultos ficam à vontade para escolher e ler
durante o evento.
O que mais surpreendeu vocês ao longo desses anos
trabalhando com teatro e contando histórias?
Foi o carinho e a receptividade das pessoas. Levar o
teatro para a rua é uma experiência fantástica! Você está diretamente com o público,
sente aquele calor humano, o olhar nos olhos, a receptividade. Ver os sorrisos
das pessoas, a alegria estampada nos rostos, a certeza de que o que assistiram
faz o mundo melhor, impacta a vida, gera mudança. É isso o que nos surpreende a cada apresentação. É ver o resultado do nosso trabalho trazendo um
conteúdo rico e importante para a vida das pessoas, tanto adultos quanto
crianças.
Quais são os planos para este ano?
São tirar do papel o projeto Cinema na
Kombi, com o qual projetaremos filmes e documentários do outro lado da Kombi em
praças e ruas. A ideia é produzir documentários, curtas, com a própria
comunidade, e contar e ouvir histórias de pessoas que moram na
comunidade.
Outra ideia é levar o projeto a áreas rurais, como vilarejos, e documentar a ação por meio de vídeos, fotos, gerando uma exposição de fotografia em diversos espaços. A iniciativa acontecerá por meio de parcerias, pois unidos somos mais fortes.
Parabéns pela iniciativa.Tenho uma proposta semelhante, espero colocá-la em prática a partir de 2017. Que essa iniciativa se multiplique por todo o Brasil!!!
ResponderExcluirÓtimo, Helcio! E quando isso acontecer, nos mostre o seu trabalho. Um grande abraço! Henrique Inglez de Souza (PiaparaCultural)
Excluir