Maria Alcina faz show grátis neste sábado em Piracicaba; leia a entrevista
Por Henrique Inglez de Souza
Uma das grandes divas da música brasileira, Maria
Alcina apresenta-se neste sábado (7) no Sesi Piracicaba, às
20h. A cantora passeará por seus grandes clássicos e por algumas novidades,
embalada com o espetáculo Nós Gostamos de Você!. A entrada é
franca.
São mais de 40 anos de carreira, e a intérprete nunca
parou de se reinventar – já se aventurou até mesmo na música eletrônica, mais
recentemente, com o grupo Bojo. Eis uma história movimentada cujo estouro inicial aconteceu
em 1972, durante o Festival Internacional da Canção, quando arrancou calorosa
reação da plateia graças à sua leitura para Fio Maravilha, de Jorge
Benjor. O capítulo mais recente chama-se De Normal (Bastam os Outros),
disco que saiu em 2014 e que rendeu um DVD em 2016.
Simpática, sorridente e de uma voz docemente firme, Maria
Alcina conversou com o PiaparaCultural.
Mais de quatro décadas na estrada. É muita época
atravessada, hein?
É, e o ponto em que a minha carreira chegou deve-se ao
fato de que houve um momento que não tive mais o amparo de gravadora. Fiquei
livre, solta, mas não esmoreci nem perdi a capacidade de falar "não tenho
disco, porém, se surgir a oportunidade de fazer um show e me convidarem, eu vou".
Mantive a chama, e estou aqui. Então, nesse sentido, você tem razão: é uma
estrada bem trilhada [risos].
Essa irregularidade é interessante. Mostra que
prevalece mesmo a vontade de se continuar a arte, independentemente se com um
disco.
O artista é artista, né? Se não tem um caminho, tem
outro, porque a gente está aqui para fazer assim mesmo. Quando
saí do Maracanãzinho [1972], com todo o sucesso do Festival, um contrato com gravadora, divulgação do trabalho, foi
maravilhoso! Foi o que me sustentou quando não tive mais isso. A televisão
também me ajudou. Enquanto não tinha espaço em um disco, era chamada para fazer
alguma música do meu repertório já consagrado na televisão. Fui bastante convidada
para ser jurada – do Bolinha, por muitos anos do Programa Raul Gil, de quase todos os programas, e investi na imagem. Então, não fiquei
esquecida para o público.
Paola Prado/Divulgação |
O que é ótimo, porque o tratamento para com a cultura,
no Brasil, de uma forma geral, é bem precário.
É, mas também temos que fazer a nossa parte, sabe? Não
tem lugar para cantar aqui, mas tem lá no fim do mundo. Você vai onde tem,
entendeu? Não tem palco, só chão – você canta no chão! Tem uma lata de
querosene, você sobe na lata de querosene e canta! Eu fiz isso. Não fiquei
presa. Sabia da minha história, do que tinha feito, mas não podia ficar
dependendo disso. O que também me salvou – aí, sim, me apeguei muito –, foram
as minhas músicas de sucesso – Fio Maravilha, Alô Alô, Kid
Cavaquinho, É Mais Embaixo, Bacurinha, Prenda o Tadeu.
Aprendi a trabalhar no palco como personagem também para criar um motivo para
as pessoas irem me ver [risos]. É gostoso!
Você despontou nacionalmente em 1972. Como é ver e
sentir um Maracanãzinho inteiro vibrar?
Não sei o que senti. Eu cantava na boate Number One,
onde fui descoberta pelo dono da casa, Mauro Furtado. O Solano Ribeiro [produtor
e idealizador de importantes festivais de MPB dos anos 1960 e 1970] me viu
lá e me convidou para ser lançada no Maracanãzinho, no Festival Internacional
da Canção. Fui muito bem assessorada, com aquela banda e tudo à minha volta. Entrei
bem tranquila, alegre, feliz de estar ali [no festival]. De vez em quando, vejo no YouTube e me arrepio com
aquilo. Até hoje falo: "Meu Deus, como é que fiz isso?" [risos]. A gente
não tem noção da emoção que rola – não tenho ainda. Não sei falar para você.
Sabe aquela fase da vida em que tudo dá certo? Você cai, dá certo; você
levanta, dá certo; você empurra, dá certo; te empurram, dá certo... Tudo dá
certo!
Hoje você se sente mais crítica e exigente ou mais
tranquila em relação à sua voz, à sua carreira?
No momento, estou bem. Estou numa gravadora – Nova Estação
– e sinto que vou amadurecendo cada vez mais. Tenho descoberto melhor a minha
voz, que tem uma potência bem grande. Com a idade, ela está até me ajudando
mais. Estou melhorando. Não é que ficamos exigentes... Percebo mais a questão
do público, que vai aumentando, pois é quem já me conhece e leva o filho, o
neto. E há ainda o pessoal que me descobriu na internet – a internet ajuda demais! Quando
fiquei sem gravadora e ninguém se interessou mais em gravar comigo, poderia ter
parado ali e ficar me lamentando hoje. Mas não! Fui à luta, entendeu? Batalhei
e estou aqui. Se me sinto muito bem, foi porque cacei e consegui. Sou feliz por
isso!
De Normal (Bastam os Outros), de 2014, deu uma aproximada entre a Maria Alcina e
as novas gerações. O quanto o público mais jovem e a modernidade te
influenciam?
Não sei explicar. Se tenho a oportunidade, me jogo,
fico junto. O que não sei, aprendo para poder fazer. Sou cantora, intérprete,
tudo misturado, então, a sonoridade só vem a favor. Quando fui convidada para
trabalhar com o Bojo, em um festival chamado Contradição, não os conhecia, e
simplesmente aceitei.
No que a música eletrônica te fisgou?
Tenho uma coisa que me ajuda bastante em qualquer
situação: muito senso de ritmo. Tenho um senso de ritmo forte e um ouvido bem
musical. É claro que há situações em que não entro. Música é ciência. Você precisa
ter noção: nem tudo podemos.
De onde vem esse seu lado sempre apoteótico e
espalhafatoso, no bom sentido?
Não sei. Sempre fui assim, mas acho que aprendi com os tropicalistas. A minha geração absorveu muito aquilo tudo. Na minha casa
não havia rádio, e quando meu tio passava por lá deixava o dele. Eu pensava que as pessoas estavam cantando dentro do rádio... Você ouvia a Elis
Regina com Arrastão, aí chegava a Maria Bethânia daquele jeito, e os
tropicalistas, a Vanusa, que se jogava no chão para cantar... Acho que aprendi um
pouco dali.
O espetáculo atual celebra de que maneira a sua
carreira?
Para Nós Gostamos de Você!, que é o show que
farei no Sesi Piracicaba, tenho um trio bem formado e com muita identidade – o
Sérgio Arara [violão, efeitos], Gustavo Souza [bateria] e Andrey
Rodrigues [teclado]. A ideia surgiu do seguinte: às vezes, em outros
trabalhos, as pessoas me pedem as músicas que gostam e que já conhecem da Maria
Alcina. Aí o Cervantes Sobrinho sugeriu de criar um espetáculo em cima disso.
Também, lógico, aproveito para mostrar material novo. Há músicas com o Bojo,
um arranjo diferenciado para Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, do
Sérgio Sampaio, uma homenagem a Carmem Miranda, que sempre foi uma tônica do
meu trabalho. É um show que, nisso, celebra os meus 43 anos de carreira.
Serviço
Maria Alcina em Piracicaba
Quando: 07/05 (sábado)
Horário: 20h
Local: Teatro do Sesi Piracicaba
Endereço: Av. Luiz Ralph Benatti, 600
Informações: (19) 3403-5928
Entrada gratuita
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