Daniel Garnet & PeqnoH: rappers celebram mil cópias vendidas do novo CD
A Virada Cultural Paulista será neste
fim de semana. Entre as atrações locais está a dupla de rappers Daniel Garnet
& PeqnoH. Eles sobem ao palco do Engenho Central de Piracicaba no domingo
(22), às 16h. O público irá conferir mais uma performance de divulgação do
álbum Avise o Mundo (2015/Pegada de Gigante), cuja versão física
atingiu a expressiva marca das mil cópias vendidas. Em um mundo quase engolido
pelo virtual e em se tratando de artistas independentes, esse é um feito e
tanto a se comemorar!
Mil
cópias físicas do álbum Avise o Mundo,
ainda mais sem tanto espaço na mídia, surpreende a vocês?
PeqnoH: É um número
significativo, né? Muito dessa conquista deve-se à correria e à disciplina do
Garnet em relação às vendas e a toda a contenção de nossa equipe, que sempre
está à disposição e contribuindo diariamente com o processo. É lindo isso!
Garnet: Trabalhar para
tal é sempre a meta, mas conquistar uma meta é sempre surpreendente, por mais
que seja a intenção. O mais legal de alcançar algo planejado é saber que
podemos, na próxima, ser ainda mais exigentes com nossos objetivos. E que
podemos, a pequenos passos, ir ampliando o trajeto nessa caminhada. Estar
acompanhado é fundamental para não desanimar. Temos quem nos ajude em diversos
aspectos, e mesmo que cada um esteja em um local, fazendo algo diferente, dá para
sentir a energia e saber que há pessoas numa única vibração. É o que nos mantém
focados em nossas atividades quando a coisa fica difícil.
As
pessoas compram os álbuns em shows e pela internet?
PeqnoH: Nós fazemos as
vendas de todas as maneiras que podemos: site, eventos do segmento ou não, em
nossos shows. O principal meio é a rua, onde abordamos as pessoas para
apresentar o trabalho e oferecer o produto – e geralmente o saldo é positivo!
Garnet: Vendemos por
todos os canais. Dá para encontrar o CD em algumas lojas físicas também, como a
Gringos Records (Galeria do Reggae, em São Paulo), Canal 24 (Galeria do Rock,
em São Paulo) e Fractal (Piracicaba). Tentamos linkar o conteúdo produzido pela
equipe na nossa página com os nossos produtos, que são camisetas, DVD e CD.
A campanha do momento é o Avise o Mundo, e a venda na rua, embora cansativa, costuma trazer
um bom astral, conforme vamos conhecendo novas pessoas.
Como
vocês percebem as mensagens que transmitem repercutindo no público?
PeqnoH: Geralmente, as
pessoas se envolvem com as mensagens e as pegam para elas. Retransmitem seja
publicando versos das músicas nas redes sociais, utilizando uma música como
material de estudo ou quando se emocionam no show e vêm nos dizer o quanto é
importante falar sobre o que falamos e o quanto se sentem representadas
pelo o que cantamos. São coisas que nos fazem entender a importância disso
tudo.
Garnet: Exatamente! É muito
legal, também, ver quando fazem questão de mostrar o nosso trabalho a outros –
tanto pela música quanto pelo fato de acharem que outras pessoas também
deveriam ouvir aquela mensagem que as tocaram. Muitos querem compartilhar a nossa
obra com quem gosta e ama, e isso é fantástico!
Como
é possível denunciar sem violência nem intransigência?
PeqnoH: De tudo o que
sofri na vida, em nenhum caso a violência resolveu. Sempre foi a causadora
desse sofrimento! E a maneira como tento expor o que sinto é uma busca para
fugir dessa violência. A denúncia, por si só, é dolorida, porque sentimos, e
muito, por ter que tratar de assuntos que deveriam ser extintos e que poderiam
não ocorrer da forma como ocorreram (ocorrem) em nossas vidas e nas dos nossos
semelhantes.
Garnet: Gosto de
recorrer ao humor. É um campo tão sem limites, enquanto que a violência caminha
por outra via.
Por
que o racismo e a intolerância persistem, velados ou não?
PeqnoH: Acredito que
seja porque vivemos numa sociedade que lucra com esse comportamento, uma
sociedade que estereotipou os grupos étnicos e que faz parecer normal uma
pessoa não se aceitar como é. No Brasil, sofremos um problema sério que deve
ser revisto: as pessoas são contra medidas de inclusão, são contra o acesso à
informação, são contra a diferente opinião e, muitas vezes, não sabem nem dizer
o porquê. Geralmente, quem vem de onde vimos e é como nós sabe o quanto é
difícil lidar com isso diariamente.
Garnet: Creio que foram
muitos anos sustentando tal pensamento. Exige-se todo um trabalho paciente para
revertê-lo. Nossa história é bem marcante e obscura, embora eu acredite que
estamos vendo mudanças. Hoje acho o racismo mais descarado, como é o racismo
norte-americano. Nossas conquistas não permitem mais que ele seja velado. É na
conquista que o racista não segura a sua onda e se manifesta. Por outro lado,
vejo várias pessoas que cresceram educadas para serem um ou uma racista em
potencial e não são. Isso é uma evolução da nossa sociedade atual.
O
quanto a mensagem das letras determina as melodias que irão trabalhar, ou não
interfere?
PeqnoH: Sempre escrevo
as rimas pensando na sonoridade. Muitas vezes, penso em como fluirá e vou
encaixando as palavras de acordo com esse ritmo que crio na cabeça. Depois,
pesquiso uma batida que tenha a ver com o que criei – pode ser um beat meu ou
de terceiros. Pergunto a várias pessoas se têm algum beat afim com isso ou
gravo uma guia e peço a um determinado beatmaker criar algo para ela. Quando penso no tema, vou na cadência do
sentimento que o envolve, e assim fica definido qual linha irá conduzir a
música.
Garnet: Meu processo é
parecido. Gosto bastante de me ligar nos temas. Qualquer publicidade, data
comemorativa, filme, livro, piada ou algo que aconteça me inspira a executar esse
processo, embora as minhas melhores letras surgiram dos meus conflitos pessoais.
Apesar de o tempo não ser suficiente, trabalhar em cima de todas as ideias é um
sonho. Trabalhar no fluxo do pensamento [risos].
Por
que acreditam que o público embalou na música que fazem?
PeqnoH: Acredito que
seja porque tem a identificação com o contexto e se viu representado.
Garnet: Acho que temos
uma causa justa – nossa causa não é só a do povo negro. Gostamos de conversar
com o nosso público para além do rap. Gostamos de nos expressar, de ouvir,
discutir e interagir, e acho que isso, com o tempo, nos fez mais sensíveis aos
sentimentos coletivos. Estamos constantemente construindo e desconstruindo. Entre
uma desconstrução e outra, acabamos captando sentimentos e pensamentos
importantes que estão no ar querendo ser ditos por alguém. Nosso papel é dizer,
deixar fluir.
Qual
é a ilustração deste momento que vivem: mil cópias físicas de Avise o Mundo vendidas e show na
Virada Cultural Paulista. Qual é o sabor disso?
PeqnoH: É, enfim, um
docinho depois do amargo...
Garnet: [Gargalha] Tipo isso! Ah, tentamos vários
caminhos e portas, né? E é a lei de qualquer área da vida: a maioria está fechada.
A arte está em saber valorizar e aproveitar o que se abre para a gente. Algumas
portas fechadas não valem a pena forçar. Parafraseando um verso de Parei [música deles]: o negócio é dar valor de "real" ao
erro e de "dólar" ao acerto. No mínimo, a gente merece uma pizza
com borda recheada depois do show [gargalha]!
Confira Avise o Mundo na íntegra ouvindo o player abaixo:
OS cara é foda !!! rsr'
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