Diretora fala sobre o documentário 'O Fim do Mundo, Enfim' e o punk brasileiro
Por Henrique Inglez de Souza
O ano era o de 1982 e o punk borbulhava especialmente
em São Paulo. O então recém-inaugurado Sesc Pompeia, na capital
paulista, realizou O Começo do Fim do Mundo, festival que se sagraria o
principal dedicado ao estilo no Brasil. Três décadas depois, a mesma unidade
capitaneou uma merecida celebração àquele estrondo todo. Teve shows com as
bandas Inocentes, Garotos Podres, Devotos, Os Excluídos, Flicts, Ratos de Porão,
Invasores de Cérebro e Questions, além dos argentinos do Ataque 77 – algumas delas
presentes no festival de 1982. Também houve debates, oficinas e outras atrações.
O encontro de gerações e, acima de tudo, o resgate e a
memória de um capítulo tão importante do rock nacional se transformaram no
documentário O Fim do Mundo, Enfim, lançado recentemente pelo
selo do Sesc. A direção é de Camila Miranda, que conversou com o PiaparaCultural
sobre o material.
Qual é a sua conexão com o punk nacional,
especialmente o do início dos anos 1980?
A renovação cultural que o punk trouxe ao mundo, ao
Brasil e à cidade onde fui criada [São Paulo] é vasta a ponto de atingir mesmo
alguém que não participou daquilo. Eu era criancinha na época do Começo do Fim do
Mundo, mas o legado e as decorrências do molotov que eles detonaram me
atingiram, e agradeço por isso. O Fim Do Mundo, Enfim é uma
retribuição, ainda que tenha acontecido de forma espontânea, nada muito
planejada.
Qual foi o viés de sua paixão para querer levar
adiante um documentário sobre o festival?
Divulgação |
O que deu mais trabalho conseguir viabilizar para o
projeto?
Sem dúvida, a parte de documentação foi a mais
burocrática, lenta, e atrasou muito o lançamento. Nem vou me estender nesse assunto
para não dispersar a atenção de quem estiver lendo, pois é realmente bem chato
todo esse processo. Porém, no final, conseguimos!
O punk mudou o rock no Brasil com O Começo do Fim do
Mundo ou foi o festival que mudou o punk no Brasil?
No meu entender, o festival apresentou o punk paulista
a todo mundo que não participava daquela cena, já que se trata de um período
pré-internet e celular. E aí, sim, o punk mudou todo o rock do Brasil. De
Renato Russo a Chico Science, ninguém passou ileso, todos foram influenciados
de alguma maneira. E isso acontece até hoje: novos artistas se fascinam com
aquela força bruta, pura, até ingênua, mas acima de tudo muito visceral e
original.
Hoje em dia, há algo na música brasileira parecido ou
que, ao menos, permita traçar um paralelo com a cena punk paulistana de 30 anos
atrás?
Vejo muitas conexões entre o punk e o hip hop. Ambos nasceram na rua,
são expressões da juventude financeiramente pobre, mas energeticamente
abastada, cheia de vontade de mudar o mundo à sua volta. Ambos seguiram a
filosofia do “faça você mesmo”, que sempre falou alto ao meu coração, também,
em tudo que faço.Assista a seguir o trailer de O Fim do Mundo, Enfim.
Comentários
Postar um comentário