Bixiga70 faz show grátis neste sábado no Sesi Piracicaba; leia a entrevista

Leco de Souza/Divulgação

Por Henrique Inglez de Souza

O Bixiga70 é a atração musical deste sábado (4), às 20h, do Sesi Piracicaba. A big band paulistana traz a turnê de divulgação de seu mais recente lançamento, o EP The Copan Connection: Bixiga 70 Meets Victor Rice. O material saiu em abril, com versões dub de faixas do último trabalho de inéditas, III (2015). O show é grátis, e as reservas são feitas pelo site Meu Sesi. 

O grupo é formado por Décio 7 (bateria), Marcelo Dworecki (baixo), Cris Scabello (guitarra), Mauricio Fleury (teclado, guitarra), Rômulo Nardes e Gustávo Cék (percussão), Douglas Antunes (trombone), Daniel Nogueira (saxofone tenor), Cuca Ferreira (saxofone barítono) e Daniel Gralha (trompete). Estes dois últimos conversaram com o PiaparaCultural. Confira o papo!

A banda sempre demonstrou sua paixão pelo dub. O que, exatamente, motivou a produção de Copan Connection?

Cuca: Copan Connection nasce como resultado natural de uma parceria com o produtor Victor Rice, norte-americano radicado em São Paulo há vários anos. Trabalhamos com ele desde o nosso primeiro disco. Seu estúdio chama-se Copan, porque fica no edifício de mesmo nome, no centro da capital paulista – próximo ao nosso, o Traquitana. 

O dub é um dos universos fundamentais na formação do som do Bixiga. Vários integrantes tiveram projetos e bandas de dub no passado, e desde as nossas primeiras gravações sempre fizemos versões dub com o Victor. Nosso compacto de estreia tinha Tema di Malaika de um lado e Dub Malaika do outro, que era a versão dub da mesma música. Quando lançamos o terceiro disco na Europa, mostramos alguns dubs ao pessoal do selo Glitterbeat. Eles piraram, e propuseram compilar em um vinil.

Vinil é um formato que, para mim, muito tem a ver com o quê vintage que vocês têm. Há um propósito específico para essa opção?

Cuca: Para nós, é sempre o caminho mais natural. Todos somos do vinil: temos, compramos, colecionamos, ouvimos. Muito do que ouvimos foi originalmente produzido em vinil, na época em que não havia outras mídias disponíveis. Mesmo hoje, quase tudo o que gostamos de ouvir sai em vinil também. O som é melhor, a parte gráfica nem se fala e, para quem é DJ, permite uma relação mais física com o som, quase como se fosse um instrumento musical.

Copan Connection sinaliza o caminho que pretendem tomar em um eventual próximo disco, o quarto da carreira do Bixiga70?

Gralha: Na verdade, o conceito desse disco já está presente em todo o nosso trabalho, desde o começo. Não só pelo fato de termos versões dub já em nosso debute, mas por de essa sonoridade ser um dos pontos em comum das diversas influências que carregamos na vida. O nosso som, a gente vem descobrindo ao longo do percurso. 

É um processo de decantamento, uma descoberta interna. É fruto dos shows, da relação com o público nas diversas cidades pelas quais passamos, das parcerias com outros artistas, do nosso leque de recursos que, de certa forma, vão se ampliando. Então, o fato de estarmos nos aprofundando de forma mais explícita nessa onda do Copan Connection eventualmente pode, sim, vir a ter uma influência ainda mais direta e clara em arranjos futuros. Porém, como eu disse antes, se isso se der, será de maneira espontânea e natural, como vem sendo todo o nosso trabalho.

Com a liberdade de estilos que marca a abordagem da banda, dá para identificar uma patente genuinamente de vocês?

Gralha: Acredito que sim. Desde o primeiro disco existe uma sonoridade presente que foi se evidenciando e fortalecendo com o tempo. É algo moldado pelos gostos e referências de nós dez. Não sabemos, até hoje, nomear o que seria essa patente. É o som do Bixiga 70. Apesar de diversas afinidades, cada integrante vem de uma escola distinta, assim como temos vivências diversas em projetos paralelos e outros trabalhos. Colocando isso tudo no som de uma forma democrática, o resultado que encontramos a cada novo arranjo acaba sendo muito espontâneo. Não é algo previamente estipulado.

Para uma big band que cria coletivamente, como funciona o processo criativo?

Cuca: Nosso processo criativo foi evoluindo junto com a banda. Foi se tornando cada vez mais coletivo. Nosso último disco saiu totalmente assim. Literalmente, entramos os dez no estúdio sem nenhuma ideia e começamos a criar – bases, melodias, arranjos. Às vezes, alguém propõe uma levada percussiva, e o resto vai criando em cima. Às vezes, começamos com uma ideia dos sopros. O que tem em comum é o fazer junto. Acho que a tendência é que continue assim.

O álbum III soa com mais solidez, no sentido de unidade na banda. Vocês levaram algum tempo até se tocarem que o Bixiga70 era, de fato, uma banda com vida própria, e não um projeto paralelo?

Cuca: Acho que essa solidez vem do que eu comentei na pergunta anterior, do fato de que o disco foi totalmente criado e executado coletivamente, pelos dez. Além, obviamente, da maturidade e, principalmente, da intimidade musical que foi crescendo com os anos de estrada. Mas nunca consideramos o Bixiga um projeto paralelo. Desde o primeiro ensaio, quando os músicos foram se encaixando no projeto, a proposta era ser para valer, como a nossa principal atividade profissional. Para uma banda de dez pessoas fazendo música instrumental, se não fosse assim, dificilmente estaríamos juntos até hoje.

Por que o Bixiga70 deu certo?

Cuca: “Dar certo”, para a gente, é bem relativo. Conseguimos manter a banda ativa, produzindo o som em que acreditamos e tocando para públicos cada vez maiores. Isso vale como “dar certo”. O Bixiga70 nasceu do desejo de dez músicos com histórias pessoais e musicais heterogêneas de fazer o som que queriam e em que acreditavam. A própria escolha de ser instrumental tem a ver com isso, de fazer um som de músico, com liberdade e, acima de tudo, muita energia. Fazer para as pessoas celebrarem a vida e a liberdade coletivamente. 

Acho que o público identifica isso em nossas apresentações. Fazemos com bastante energia e emoção, porque é o som em que acreditamos, é o que queremos fazer. Acho que isso gera uma identificação maior do que o próprio estilo musical. Até porque o nosso público não é só o de música instrumental.

No final deste mês, vocês embarcam para a Inglaterra, onde tocarão no Festival de Glastonbury. Não se trata de um evento tão empolgado em relação a artistas brasileiros. Isso muda alguma coisa na hora de prepararem o show que apresentarão por lá?

Gralha: Sem dúvida, existe uma empolgação extra em virtude do tamanho desse festival – há situações em que a ficha só cai mesmo quando estamos vivendo a coisa, ou até algum tempo depois. Rolou uma energia assim, também, antes de irmos para Roskilde [Dinamarca], em 2013, para o Marrocos, em 2014, e também nas duas turnês pelos Estados Unidos em 2015. Toda viagem tem sua importância, e não é pouca. 

Mas não costumamos mudar nada em específico para cada uma das cidades ou cada um dos festivais em que nos apresentamos. O tempo todo estamos mudando algo no repertório, fazendo alguns ajustes. É algo natural, que se faz necessários no percurso, e isso ocorre mesmo sem haver viagem, no dia a dia da banda. De certa forma são mudanças que mantêm sempre um certo frescor do material – o que influencia como tocamos. É uma reciclagem energética.

Estamos bem contentes com o formato que o show está agora. Porém, antes da viagem [para a Inglaterra], ainda teremos as datas de lançamento do Copan Connection por aqui, e é bem possível que algum dos arranjos dessa performance especial acabe entrando no repertório da turnê. Vamos ver o que acontece. De qualquer forma, estamos confiantes que será uma delícia de experiência, assim como tem sido todas as nossas viagens, sem exceção.

Vocês pesquisam sobre os lugares em que irão tocar, por exemplo, em Piracicaba, ou não mudam tanto o repertório da turnê?

Cuca: Nem sempre temos o tempo que queremos para essa pesquisa. Muitas vezes, as viagens são bem corridas. Levamos em conta alguns fatores para desenhar o show que vamos fazer: se é a primeira vez que vamos para aquela cidade ou o tipo do local em que tocaremos – se é teatro ou na rua. Quando temos tempo, tentamos interagir com músicos da cena local, participando de jams depois do show. Porém, independentemente, tocamos para que o som crie uma conexão forte com o público, transformando a apresentação numa imensa celebração!

Leco de Souza/Divulgação