Ultraje a Rigor: Roger fala de abrir para os Rolling Stones e da polêmica no show
Por Henrique Inglez de Souza
Ainda reverbera a primeira parada da turnê
brasileira dos Rolling Stones, no Rio de Janeiro (20/02, Estádio do Maracanã).
Não apenas por conta dos icônicos britânicos, mas pelo desentendimento ocorrido
na performance do Ultraje a Rigor. O quarteto paulistano era uma das atrações de
abertura, juntamente com o Doctor Pheabes, e logo no início do repertório Roger
Rocha Moreira pôde ser visto discutindo com alguém na plateia. A confusão teve
a ver com as suas convicções políticas. O episódio virou polêmica na internet depois
da reação do músico à cobertura publicada por um grande jornal de São Paulo.
Resolvemos, então, saber do próprio o que houve.
Eu
suporia sensacional o show de abertura para os Stones, não fosse a polêmica que
circulou na internet. Fale do saldo positivo da experiência.
Eu topei fazer o show pelo privilégio de talvez poder conhecê-los, o que realmente aconteceu. A oportunidade de abrir
para uma banda tão seminal e que significa tanto, não só para mim como para
toda a história do rock, vale mais do que qualquer coisa. Foi surreal vê-los
juntos, de perto, conversar com eles. Sim, sua equipe de palco é de uma
grosseria desnecessária, mas seu gerente de palco acabou vindo pedir desculpas pela
estupidez de seu pessoal. Disse que não é o normal etc.
Quanto à falsa manchete da Folha – de que
fomos vaiados, que ninguém viu o show por causa da chuva e que eu xinguei a
plateia –, atribuo isso à má vontade que a esquerda tem comigo justamente por
não ter como defender este governo ou sua filosofia. Então, atacam o
mensageiro. Mas a performance foi ótima!
Já
chegou a imaginar que pudesse abrir para os Rolling Stones mais de 30 anos
depois de formar o Ultraje?
Dantas Jr. |
Quando começamos, não pensava nem que
pudesse estar na posição em que estou hoje. Nem era a intenção. Hoje em dia
sim, já que eles nos visitam frequentemente. Por que não? Mas conhecê-los foi
surreal. Foi como conhecer 50 anos de história de uma vez. O melhor foi como
fomos escolhidos, indicados pelo Lucas, filho de Jagger. O próprio Mick
pesquisou sobre nós e nos escolheu. Isso, eu não poderia imaginar jamais!
Explicando a ligação, o Lucas já tinha visto nosso show em uma festa, e o irmão
do Mingau [baixista do Ultraje a Rigor] dá aulas de tênis a ele.
O
dia do show, até pisarem no palco para valer, foi tenso?
Para mim, desde que soube que abriria o
show foi tenso. Noites mal dormidas, muita ansiedade. No próprio dia, não
tínhamos informação nenhuma de quando iríamos passar o som, o que acabou nem
acontecendo. Havia a agenda de que os Rolling Stones passariam o som a partir
das 13h e depois (o “depois” era bem vago), o Doctor Pheabes e nós passaríamos
o som ao mesmo tempo (?). Tivemos cerca de 10 minutos, já às 19h10, com a
equipe deles encrespando com tudo. Não podia tocar uma música inteira, não
podia cantar, não podia perguntar por quê.
Você
disse que a produção dos Stones, gringa, tratou o Ultraje a Rigor como “lixo”?
O que fizeram à banda?
Bom, esse tipo de coisa: não
conversavam, não respondiam às nossas perguntas e, literalmente, nos enxotavam
do palco com gestos e frases monossilábicas, do tipo “no, no, no”, “everybody
out”, “we’ll let you know” – e até gestos de “xô”. Um horror!
O
Ultraje parece não ter muita sorte com produtores gringos no Brasil, hein? Em
2011, houve aquela puta confusão com o pessoal do Peter Gabriel...
Sim! E também tive uma discussão com o
empresário do Faith No More quando eles estiveram no programa [The Noite com
Danilo Gentili, do qual o Ultraje a Rigor é a banda]. Ninguém ficou sabendo.
Essas coisas chamam muito a atenção por serem com estrangeiros mundialmente
famosos, mas foram sempre pelo mesmo motivo: falta de respeito e ignorância
desses estrangeiros. Nas três vezes, vieram me pedir desculpas, pois eu estava
certo. Não entendo como os outros aguentaram isso. Mas não é a regra.
Encontramos diversos estrangeiros famosos, como Jon Anderson e CJ Ramone
(tocamos com ambos), além de atores ou músicos que agiram como seres humanos
normais.
E
os próprios Rolling Stones, se manifestaram em relação ao que disse sobre a
produção deles?
Eles próprios, não. Nem sei se souberam,
e não iríamos desperdiçar o nosso momento com isso, ainda mais depois que seu gerente
de palco nos pediu desculpas. Se não tivesse pedido, poderia alertá-los, afinal
não é bom para a banda que seus empregados prejudiquem sua imagem.
No
Brasil, a internet colabora bastante com aquela coisa do “telefone sem fio”, ou
seja, um fato vai sendo espalhado e ganhando novas caras e versões. O que,
afinal de contas, aconteceu entre o Ultraje a plateia?
Dantas Jr. |
Absolutamente nada. O que aconteceu foi
entre mim e um cara que me chamou de coxinha. Mais tarde, soubemos, inclusive,
que era fã e que me chamou assim para encher o saco. Usei o posicionamento do
cara para xingar o PT e não a plateia. Mas a Folha achou por bem distorcer a
coisa. Estamos pedindo retratação. E tem, claro, aqueles que vão sempre me
xingar por causa de minha posição, que não é nem política; é uma questão de
caráter e de inteligência. O socialismo não funcionou na maior parte das vezes em
que foi experimentado, e eu sei que pode ser melhor e que o caminho não passa
por um salvador da pátria.
Esse
episódio todo, que ainda rende caldo, dá liga para uma nova música? Que tal?
Não é mais o meu objetivo. Já disse
diversas vezes e de diversos modos qual é o meu pensamento. O problema do
Brasil é a mentalidade do brasileiro, pobre ou rico. Não há interesse político
em mudar essa mentalidade. Daqui para a frente, deixa de ser uma provocação
divertida. Só se eu passar a xingar abertamente, e não é o caso. Não critico
para agredir, mas para provocar, para melhorar. Esse é um dos problemas, essa
autoestima falsa. Temos que nos conscientizar de que estamos errados, que temos
muitos defeitos, e começar a trabalhar na questão. Fazer isso, e não ficar com
esse papo ufanista babaca de que “nós somos amigáveis”, “nós somos corajosos”,
“nós somos alegres”. Nós estamos é muito atrasados, isso sim!
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