3° Festival de Jazz Manouche de Piracicaba ganha documentário – premier exclusiva!
A terceira e mais recente edição do já
importante Festival de Jazz Manouche de Piracicaba, realizada em outubro de
2015, foi registrada para um documentário. O filme é de Carlos André Donzelli e
chega ao público nesta sexta-feira (26) pela premier exclusiva do Piapara
Cultural. Nós conversamos com o idealizador/organizador do evento, Fernando
Seifarth. O músico e produtor nos avaliou a cena nacional do jazz manouche (ou
gypsy jazz) e deu detalhes sobre o que vem por aí, em 2016.
O Festival
de Jazz Manouche de Piracicaba caminha para a sua quarta edição. O que pode nos
adiantar em relação ao que veremos este ano?
Na primeira edição, tivemos os
principais grupos brasileiros então em atividade. Na segunda, além de
violonistas brasileiros, convidamos o inglês Richard Smith e o italiano Dario
Napoli. Na terceira, ante o crescimento natural do evento, tivemos a presença
de dois ícones internacionais do gypsy jazz: o norte-americano Paul Mehling,
líder do Hot Club de San Francisco, e o inglês radicado na Holanda Robin Nolan,
responsável pela importante revista digital Gypsy
Jazz Secrets. Além destes, Bina Coquet e os sanfoneiros Marcelo, Daniel e
Thadeu.
Para a quarta edição, em 2016, teremos o
norueguês Jon Larsen, fundador do selo Hot Club Records, o grupo canadense Tcha-Badjo,
e as holandesas Eva Scholten e Irene Ypenburg. Teremos, ainda, uma grande
parceria com o Sesc, que possibilitará aos artistas a apresentação individual e
de modo mais abrangente de seus trabalhos.
Qual
é o tipo de feedback que recebeu de outros países para o festival?
Após a vinda dos artistas estrangeiros,
o festival passou a ser conhecido e valorizado na Europa e nos Estados Unidos.
Por enquanto, fazemos a apresentação em um único dia, com intervalos. Fui
conhecer festivais em Amsterdã (Holanda) e Samois-sur-Seine (França), e pude
ver que organizam em mais de um dia, além de dar muita importância às jams
sessions (sessões de improviso) depois das apresentações.
Neste ano, ainda faremos o festival em
única data, 22 de outubro, mas pretendemos organizar uma jam session ao lado do
teatro onde será realizado, possibilitando aos músicos presentes e ao público
integração com os artistas convidados.
Você
sente que o interesse pelo jazz manouche tem aumentado no Brasil?
É realmente impressionante como o
interesse pelo jazz cigano cresceu no Brasil nos últimos oito anos. Lembro-me
de 2008, quando eu e dois músicos da Traditional Jazz Band – Mônaco e Cidão –
fundamos o Hot Club de Piracicaba. Pouco se falava do estilo em nosso país. Não
havia CDs (exceto os de Django Reinhardt), material didático nem violões
ciganos. Na época, fiz uma busca na internet atrás de violonistas e grupos, e
encontrei o Hot Club do Brasil, de São José dos Campos (SP), o Hot Jazz Club,
de Campinas (SP), o Mauro Albert, de Curitiba (PR), e o Edu Bologna, de São
Paulo (SP).
Fernando Seifarth (Antonio Trivelin/Divulgação) |
Hodiernamente há diversas cidades em que
o “movimento manouche” se consolidou no nosso país. Em Piracicaba (SP), por
exemplo, realiza-se anualmente o pioneiro festival internacional de jazz
manouche. Em São Paulo (SP), notadamente no bairro Vila Madalena, há
apresentações semanais em bares, destacando-se os violonistas Bina Coquet e Flávio
Nunes, entre outros. Em Curitiba (PR), há gigs frequentes do Jazz Cigano Quinteto
e, em Florianópolis (SC), de Mauro Albert e Felipe Coelho.
Ainda posso citar Campinas (SP), Rio de Janeiro
(RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF) e Vitória (ES) como cidades que sediam
grupos de gypsy jazz. Interessante destacar que não há só violonistas se
especializando no jazz manouche, mas também violinistas (como Ted Falcon,
Ernani Teixeira, Israel Fogaça Junior, John Theo, Sergio Esteves, Wag Collins) e
acordeonistas (Marcelo Cigano, Daniel Grajew, Thadeu Romano, entre outros).
É
possível traçar um perfil do público brasileiro do manouche?
O gypsy jazz não faz pare da cultura
musical brasileira. Os guitarristas com formação em jazz conhecem bem o
trabalho de Django Reinhardt. Porém, o público em geral não é habituado a ouvir
esse estilo. Não obstante, constata-se nas apresentações uma grande
receptividade da audiência e imediata conexão com a música – talvez pela
proximidade do jazz cigano com o choro e, em certa medida, com o flamenco e o jazz
tradicional (gêneros mais conhecidos por aqui). Ao término dos shows, os
músicos, ao conversarem com as pessoas, percebem com satisfação o impacto nelas
causado, confirmando a seguinte sentença: quem ouve o jazz cigano uma vez, quer
ouvir mais; vira freguês!
E
a mídia daqui, qual é o interesse pelo estilo? Acha satisfatório ou ainda há
certa resistência?
A mídia local, em Piracicaba (SP), tem
muito interesse pelo festival e pelo jazz cigano. Faz uma ótima cobertura dos
eventos, com matérias bem precisas e bastante informação. Posso afirmar
seguramente que, depois de três edições do festival, os leitores dos jornais da
cidade e os que acompanham portais de notícias na internet são conhecedores da
importância de Django Reinhardt e do gênero musical que ele criou, ao fundir a
música cigana com o jazz. Porém, com exceção das revistas Guitar Player e Bass Player
(que têm distribuição nacional), ainda não se fez uma matéria abrangente sobre
o movimento do gypsy jazz no Brasil.
Hoje
o Piapara Cultural lança em primeira mão o documentário sobre o 3˚ Festival de
Jazz Manouche de Piracicaba. De onde veio a ideia para o filme?
A ideia foi ter um material de fácil
acesso para mostrar a forma como organizamos o festival de jazz manouche em
Piracicaba, com suas peculiaridades. O objetivo também foi o de preservar a
história do evento. Trata-se de um trabalho muito cuidadoso e bem elaborado do
Carlos André Donzelli, e terá grande valia para amparar os convites a artistas
renomados.
O
que é tocar jazz manouche para você?
Paixão, liberdade e alegria.
SÓ POSSO DIZER: MARAVILHA!! QUE BOM TERMOS UM GRUPO TÃO ATUANTE - PARABÉNS FERNANDO E A TODOS OS DEMAIS QUE ATUAM NO GYPSY JAZZ
ResponderExcluirFERNANDO PEÇO PERMISSÃO PARA DIVULGAR O DOCUMENTÁRIO NO BLOG CJUB, OK?
Caro Mario Jorge! Que bom que tenha lido a entrevista que fizemos com o Fernando, porém, este blog não é dele. Para tal permissão, você precisaria ver com ele diretamente - em algum de seus canais de contato. Todavia, está mais que convidadíssimo a sempre dar uma passada por aqui, no Piapara Cultural, para ver o que está acontecendo de bom na cultura de Piracicaba (e do país e do mundo). Forte abraço!
ResponderExcluirMuito bem conduzido e redigido o artigo. Vida longa ao manouche brasileiro.
ResponderExcluirValeu, Gilberto de Syllos! Abraço!
ExcluirPouco "marketing" em geral para a grandeza do trabalho executado em Piracicaba e no restante do Brasil. O "grande público" vive manietado por uma permanente "não-música", que lhe é atirada em doses cavalares pela TV e rádios. Trata-se de um consumismo que nada serve para a cultura. A entrevista, brilhante como o entrevistado, é um oásis em nosso deserto musical.
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